Um dos grandes talentos de boa parte dos jornalistas é a desfaçatez. Prova disso é a imprensa que reclama dos candidatos por não apresentarem propostas consistentes de governo. Os políticos estariam mais preocupados em propagar bravatas contra adversários do que com os problemas dos brasileiros.
Seria um discurso até acertado se não fosse o fato que a própria imprensa é a que mais se interessa pelas bordoadas que os candidatos dão uns nos outros. Não bastasse isso, a mídia se encarrega de também dar as suas.
Fernando Rodrigues, por exemplo, se preocupa mais em dizer por que Alckmin deu mole no marketing do que questionar as respostas do candidato. É como se dissesse, “Alckmin podia ter inebriado os espectadores fazendo isso, fingindo aquilo”. Ou seja, o critica por ser mau ator. Se as respostas foram acertadas ou não ele não quer saber.
Mas Fernando Rodrigues não é o único. Essa postura permeia toda a grande imprensa brasileira - que eu não acho tão ruim assim, diga-se. Também até eu tenho minha postura nesse sentido.
A imagem do candidato, vê-se, é mais importante do que ele tem a dizer. É por isso que um candidato pode falar as maiores asneiras ou pode falar as maiores verdades que no final ninguém vai ligar; desde que você domine o debate, mesmo não deixando seus entrevistadores falarem, tudo bem, ponto pra você.
No final, mais uma vez o que parece é que o Brasil e a imprensa ainda procuram por um salvador. Não se quer um bom administrador público, o que importa é ter alguém que fale pra galera. Se falar bastasse...
Agora, acho que o Jornal Nacional pode e deve questionar os candidatos, e qualquer autoridade pública, sobre pontos nebulosos. Alckmin teve das dez perguntas que lhe fizeram nove em tom acusador, pra constranger e por contra a parede. Está errado? Não está.
Mas tem um “porém”. Mesmo que o jornal mantenha o tom com todos os candidatos (e por ontem vimos que sim), não dá pra dizer que o JN está preocupado com proposta de governo e como os governantes pretendem governar.
Mais. Erra o jornal quando acredita que fazendo de dez nove perguntas constrangedoras pra todos está sendo neutra ou isenta. Não está. Se formos comparar o que tem o jornal pra constranger Alckmin, Heloísa e Cristovam com a metade do que tem contra Lula, seria preciso fazer de 20 perguntas, 30 sobre os escândalos de corrupção em seu governo.
Mas vamos ver.
Márcio
quarta-feira, agosto 09, 2006
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