quarta-feira, agosto 23, 2006

Lição de hoje: isonomia

Padrão de isenção Folha de S. Paulo:

Tomemos os seguintes pontos da entrevista de Lula ao JN:

1. Lula diz que demitiu José Dirceu.
2. Lula diz que demitiu Antônio Palocci.
3. Lula diz que criou o Tribunal de Contas da União.
4. Lula diz que os escândalos dos últimos meses tiveram todos início de investigações do governo.

Agora vamos aos fatos, ou sendo mais preciso, à verdade:

1. José Dirceu se demite [conforme prova o Diário Oficial da União] e recebe juras de amor em carta do companheiro Lula.


2. Antônio Palocci se demite [conforme prova novamente o Diário Oficial da União] e recebe afagos de Lula diante da tevê.

3. O Tribunal de Contas da União já existia antes do governo Lula, segundo o próprio site oficial do TCU, em sua seção “histórico”.

4. Vejamos onde se iniciaram as investigações dos principais escândalos políticos do último ano:


a) Caso Waldomiro Diniz [revista Época];

b) corrupção nos Correios [revista Veja];

c) escândalo do mensalão [entrevista de Roberto Jefferson à Renata Lo Prete para a Folha de S. Paulo, prêmio Esso de Jornalismo 2005];

d) caso Francenildo-Palocci [revista Época];

e) escândalo dos sanguessugas [Ministério Público de Estado do Mato Grosso].

Por fim vamos a prática do bom jornalismo brasileiro:

Um dia após a entrevista de Lula ao JN, o jornalismo online divulgou os seus respectivos “o dia dos candidatos”. No espaço cedido a Alckmin, líamos manchetes como “Alckmin chama Lula de mentiroso”, ou ainda “Alckmin diz que Lula mentiu”. Pelos títulos, logo pensamos: “pronto, a baixaria começou”.

Mas prossigamos. As matéria em si, banais, de pura cobertura da agenda dos candidatos, começam dizendo onde o candidato estava, que fez passeata, apertou as mãos de eleitores, e por fim, dá entrevista pra imprensa. No caso de Alckmin naquele dia era: “Lula mentiu ao dizer que demitiu Palocci e Dirceu” e outras aspas parecidas.

Bom. Como jornalistas competentes que somos, sabemos que devemos ouvir o “outro lado”, o famoso contraditório. Se não dá pra ouvir, é bom mencionar, então o jornalismo seguia sua matéria dizendo: “Lula finalmente admitiu no JN que demitira os ministros Palocci e Dirceu”, e a matéria segue com a assessoria de imprensa: “Amanhã Alckmin viaja pra São Paulo pra se reunir com...”, ponto final.

Está pronta a matéria com padrão isenção Folha de S. Paulo. Isso é isonomia. Metade pra ti, metade pra mim. Bravo. E as perguntas que nos fazemos:

1. E onde está a verdade, quem a diz?
2. Lula mentiu ou falou a verdade?
3. A imprensa não vai às fontes, nem sequer no site oficial do TCU?
4. Alckmin mentiu ao dizer que Lula mentira?
5. Lula mentiu ou não mentiu??

Princípio número 1 da imprensa hoje em dia: isenção e isonomia. A verdade? Ah, isso é tão difícil de discutir, afinal Sara tem respostas sensacionais pra isso: “talvez”, “pode ser”, “quem sabe”, “tudo é relativo”.

Pegadinha pra vocês: se tudo é relativo, onde está a relatividade dessa afirmação? Se tudo é relativo, algo não deve ser, e isso é aquilo a que chamamos de Verdade.

Do jornalista

Márcio

P.S.: Alexandre, ainda não fui tirar meu DRT, mas quando o fizer, juro que o colocarei aqui.



3 comentários:

Manelé na Tela disse...

Tb não... Quando vc for me chame...

Manelé na Tela disse...

Se bem que... Não sei se nasci pra isso não, velho... Meu dia não foi bom aqui no jornal...

Manelé na Tela disse...

Boréstia