Por Fernando Rodrigues
Pronto. Lula tomou um “ calor” do “JN”. Não foi mole. Muito mais da metade da entrevista (agora, a cobertura eleitoral da Globo, vejam só, é patrocinada pelo Bradesco!) foi sobre corrupção na administração federal do PT.
Resumindo: pela primeira vez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu, em público, que afastou dois de seus principais colaboradores por causa de envolvimento com ações impróprias --corrupção ou seja lá o que for. Ao ser apertado agora há pouco pelos apresentadores do "Jornal Nacional", da TV Globo, Lula disse: "Eu afastei o Zé Dirceu. Afastei o Palocci". E afirmou ter afastado "outros envolvidos". O candidato do PT respondia sobre sua atitude diante das acusações de corrupção e mal feitos em geral dentro da administração federal.
Quando Zé Dirceu saiu da Casa Civil e Antônio Palocci saiu do Ministério da Fazenda, o presidente não foi nem de longe tão explícito. Justamente o oposto. No caso de Palocci, chamou-o de irmão. E, para todos os efeitos, quem estava pedindo demissão eram os ministros. Ninguém estava sendo mandado embora.
Qual o saldo dessa entrevista de Lula para o "JN"? Difícil dizer. Lula estava meio atarracado (ele é baixinho) atrás de uma mesa comprida na biblioteca do Alvorada. Sua equipe poderia ter colocado uma cadeira com assento mais alto. Sua cara também não estava muito boa (a barba e o cabelo poderiam ter sido mais bem aparados).
O petista repetiu mais ou menos as explicações carentes de verossimilhança de outras oportunidades. "Eu não sabia, eu não sabia...".
Perguntas que não foram feitas: “Mas, presidente... O sr. está dizendo que Zé Dirceu e Palocci estavam “envolvidos”. Eles eram seus auxiliares mais próximos e mais importantes. Como o sr. não soube de nada? Eles eram então excelentes atores?”.
Outra: “Presidente, por que o sr. dá tão poucas entrevistas coletivas, com liberdade total para que os repórteres possam perguntar?”
No mais, os apresentadores do “JN” foram um pouco prolixos nas perguntas (sobretudo William Bonner). Muita enrolação. Seria bom depois alguém cronometrar quanto dessas entrevistas são ocupadas pelas perorações do casal. Por que não fazem perguntas diretas, com sujeito, verbo e predicado? Por exemplo: “O sr. reafirma que nunca soube de nada a respeito do mensalão? ". Ou então: "O sr. acaba de citar Zé Dirceu e Palocci como 'envolvidos'. Envolvidos com o quê?".
E o que foi aquilo de chamar o presidente da República só de “candidato”? Para quê? Foi conselho de César Maia em seu exótico ex-blog. Mas com Heloísa Helena foi diferente. Até de deputada ela foi tratada (e de senadora, que de fato é o cargo que ocupa).
Será que o “JN” acha que passa alguma imagem de maior independência por chamar o presidente da República de “candidato”? O sujeito é candidato e presidente, ao mesmo tempo.
Para concluir antes que este post exceda o número de caracteres permitido, minha impressão é que a entrevista de Lula foi de neutra para ruim para o petista. Boa é que não foi. Até os 8 minutos e meio (a duração total é de 11 e meio) ele estava respondendo sobre mensalão e outras mazelas de seu governo.
Como ele só repetiu o que costuma dizer sobre esse assunto, teremos de aguardar um pouco para saber o efeito real.
Já para Antônio Palocci, a coisa ficou mais feia. Ele é agora um “envolvido”.
Post blog: eu não iria comentar, mas já postaram nos comentários as gafes lulistas, quase uma praxe acadêmica a esta altura. Ele falou de MILHÕES de km de fronteira! Disse que é preciso combater “a ética”. E que a única coisa que está caindo no Brasil "são os salários”. Waaal.
Nota de Cristovam Dadá: Zé, você vai mesmo votar nesse cara?
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8 comentários:
Como Lula despediu seu "querido Zé Dirceu"
Por Fernando Rodrigues
Recordar é viver. Primeiro, Zé Dirceu tinha solicitado sua demissão. Ontem, Lula disse que afastou o então ministro da Casa Civil.
Eis a carta de Lula para Zé Dirceu, em 16 de junho de 2005:
“Querido Zé,
Recebi seu pedido de afastamento das funções de chefe da Casa Civil. Decidi aceitá-lo, louvando seu desprendimento pessoal. Só pessoas de sua grandeza são capazes desses gestos. Compartilho seu sentimento de que esta decisão permitirá a você melhor defender nosso governo, nosso partido e sua própria pessoa.
Como parlamentar brilhante que é – um dos líderes políticos mais importantes e respeitados da República – você poderá, na casa do povo brasileiro, desfazer as infundadas acusações lançadas por aqueles que querem desconstruir nossa história e nosso projeto de mudança social.
Esta é a ocasião para expressar meu apreço por sua lealdade, dedicação, competência e honestidade no trato da coisa pública, como ministro-chefe da Casa Civil. É também a ocasião para reiterar minha amizade e gratidão por tudo o que fez pelo povo brasileiro
em nosso governo. Como você mesmo diz em sua carta, a luta continua.
Luiz Inácio Lula da Silva”
É isso aí.
Sem controle
Por Ricardo Noblat
É recomendável que Lula evite comparecer a debates na televisão e no rádio com os demais candidatos à sua sucessão. Ele não resistiria ao sufoco.
Imaginem se Lula repetisse o que disse há pouco em entrevista ao Jornal Nacional - que não sabia do escândalo do mensalão até que ele foi descoberto, mas que é responsável pelos erros cometidos por qualquer um dos 1.200 mil funcionários públicos.
Ouviria na hora:
- Pare de enrolar. Quem se diz responsável por eventuais erros de 1.200 mil funcionários na verdade diz que não é responsável por nenhum erro. Quero saber como o senhor poderia desconhecer o que acontecia a poucos metros do seu gabinete e que resultou na demissão do seu principal ministro.
Ouviria na hora quando dissesse que nada fez para dificultar os trabalhos de qualquer CPI:
- Como nada fez? Então os ministros que tentaram impedir a criação de tantas CPIs agiram contra sua vontade?
Ai de Lula se esquecesse de responder à inevitável pergunta sobre a identidade daqueles que o traíram. Seria cobrado na hora:
- Quem traiu o senhor, quem? Dê os nomes.
Se Lula ousasse afirmar, como fez, que afastou seus dois principais ministros (José Dirceu e Antonio Palocci), o comentário viria em seguida:
- Afastou-os depois de tentar mantê-los enquanto pôde. E não se acanhou de chamar Palocci de "meu irmão" no dia em que ele foi embora.
E se ele repetisse o que disse a respeito de uma dívida com o PT que não reconhece, mas que Paulo Okamoto, presidente do Sebrae, mesmo assim pagou por ele e com seu próprio dinheiro?
Seria uma festa para qualquer adversário que pudesse comentar em seguida:
- Quer dizer que Okamotto é maluco de pagar uma dívida inexistente? O senhor pelo menos reembolsou-o?
William Bonner e Fátima Bernardes apertaram Lula que passou dois terços do tempo da entrevista respondendo a perguntas incômodas. Mas não o interromperam tanto como fizeram com Geraldo Alckmin. Nem foram tão agressivos.
Lula insistiu na tese do "eu não sabia". Pode ter deixado no mínimo a impressão de que não controlava as ações dos seus subordinados - o que é ruim para ele.
vem cá?
Não é melhor colocar o link dos blogs?
Hoje eu li isso do meu professor de português:
“Por que não fazem perguntas diretas, com sujeito, verbo e predicado?” Porque uma pergunta com “sujeito, verbo e predicado” teria verbo demais e gramática de menos, uma vez que o predicado, necessariamente, inclui o verbo. Quem ensina corre sempre o risco de aprender. É o sal da vida.
Hahaha
É óbvio que para quem está liderando as pesquisas os riscos são maiores, mas acho que Lula se saiu muito bem. Aproveitou as perguntas complicadas para falar de pontos positivos do governo. Melhor que Alckmin, com certeza, ele foi. Heloísa Helena é franco-atiradora, não tem muito o que perder. Ainda não vi a entrevista do candidato de Darino, mas não deve ter sido lá essas coisas, porque ninguém comentou em lugar nenhum.
Amoêdo
Colocar os textos nos poupa o trabalho de ir nos outros blogs procurar.
Mesmo que não concordemos com as opiniões, acho que enriquece o blog, atiça a galera.
Quem não quiser ler, basta ignorar.
Dadá Rodrigues Noblat
Meu comentário sobre Cristovam é uma famoso onomatopéia: Zzzzzzzzzzz....
Hehehe
E Lula cometeu alguns atos falhos, como dizer que seu governo "combate a ética"... hehehe
E naqueles olhos fumegantes de Lula quando ouvia as perguntas constrangedoras dava pra sentir como ele tava nervoso e sem jeito...
E balela dizer que Helô se mostrou calma na entrevista. Só vi uma calma dissimulada. O tanto que ela suspirou... e aqueles "meu amor", "minha filha" são de péssimo gosto e só mostra alguém q está controlando o temperamento.
M.
Minha análise
Na minha humilde análise das entrevistas do JN, a vencedora foi Heloísa Helena. Prolixa, soube evitar as perguntas dos apresentadores. Segura, conseguiu enrolar os mesmos na questão dos princípios do PSOL x programa de governo. Soube explorar o sentimentalismo, ao falar do filho que teve traumatismo craniano e sensibilizou a galera. Além de ganhar o público com afagos como “meu amor” e “querida”. Botou pra fuder! Surpreendeu aos que, como que, pensaram que, na falta de argumentos, ela ia dizer que o Jornal Nacional só estava tentando ridicularizá-la por ser um veículo a serviço de uma burguesia hipócrita e falida, usurpadora e despudorada e que ela não compactuava com o “sistema” e, por isso, ia se levantar da bancada. Mas não sem, antes, dar um murro na mesa e bufar para as câmeras...
O segundo melhor, na minha suspeita opinião, por incrível que pareça, foi Cristóvam Buarque. A posição dele nesta eleição é bem clara e assumida: ele não disputa para ganhar, sabe que não tem cacife para tal. O que ele quer é colocar a educação em pauta na campanha eleitoral e tem conseguido. Se articulou bem no JN, não deu repostas evasivas, tampouco foi cínico, como Lula. Nas perguntas, não havia nenhuma menção à corrupção, como nos casos de Lula e Alckmim, ou preconceito, como o que aconteceu com Heloísa ao falar, pejorativamente, dos "empregadinhos". O que mostra, ao menos, a idoneidade do homem público Cristóvam Buarque, que, para mim, importa, e muito. Ainda conseguiu comover, quando disse que a Educação não era considerada importante pelo eleitorado, ou então, "eu não teria menos de 1% das intenções de voto". Deu pena...
Sobre o quarto colocado, há controvérsias, mas acho que Lula foi o pior. Só falou mentira, foi dissimulado, cínico. Se confundiu tanto com as mentiradas que cometeu mais gafes que o habitual. Acho que ele só foi sincero, mesmo sem querer (isso pra ele é muito difícil), quando tratou do "combate à ética". É o que não cansa de fazer em quatro anos de mandato. Foi um ato falho que refletiu o caráter (ou seria a falta dele?) do presidente. Disse que demitiu Dirceu e Palocci, quando só o fez por causa da enorme pressão da mídia e opinião pública. Queria mostrar firmeza e liderança, mas foi ridículo e assumiu publicamente a faceta de dissimulado que deve ser o tom da sua campanha eleitoral. Ele acha que a gente não tem cérebro? Que somos lesos? Que não temos memória? Esse sapo acho que governa o quê? É um desastre constatar que o homem que despertou a esperança de milhões de brasileiros se transformou num obcecado pelo poder, um demagogo populista como tantos e tantos outros que habitam a história. A ambição venceu a esperança. Repito: Zé, você vai mesmo votar nesse cara?
Menos pior que Lula foi Chuchu, mas igualmente lamentável. Teve aquela famosa reação "bovina", quando, questionado sobre a educação em São Paulo, afirmou desconhecer os números (imbecil). Não mostrou postura de presidente, ao deixar-se encurralar sem contra-atacar, sem levantar a voz, sem interromper os entrevistadores, como todos os outros fizeram, até o inofensivo Cristovam... Foi o mais manipulável dos entrevistados, o mais tímido, o mais pau-no-cú, o mais otário. Desempenho risível. Ainda bem que as pessoas perceberam e ele começou a cair nas pesquisas. Se bem que eu já não sei quem é pior: ele ou Lula. Conclusão: estamos fudidos.
Nota do autor: afirmar que Heloísa Helena foi a melhor no debate não quer dizer que eu acho que ela será a melhor presidente. Longe, muito longe disso. Esta humilde análise é baseada no desempenho dos referidos somente nas entrevistas do JN. O meu voto eu não mudo!
Cada vez mais decidido sobre em quem não votar,
Cristovam Dadá
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