quarta-feira, agosto 09, 2006

Pra provocar Mr M.

Só para provocar Márcio, segue a boa análise do jornalista Fernando Rodrigues sobre o desempenho de Heloísa Helena no Jornal Nacional de ontem. Nada absurda a tese de que o Picolé de Chuchu pode derreter antes do segundo turno.

Agora, quem deu uma sova no JN foi HH

Eis aí a diferença entre uma política (Heloísa Helena) e um técnico (Geraldo Alckmin).

Heloísa Helena acaba de dar uma sova nos apresentadores do "Jornal Nacional", da TV Globo. Ela é política. Com a ética dos políticos (ei, tucanos, peçam uma dica sobre Max Weber para FHC), ela tergiversa, enrola, finge estar à vontade, sorri e não permite ao interlocutor que a interrompa. Teve um desempenho quase oposto ao de Geraldo Alckmin no dia anterior (que de maneira bovina até admitiu não conhecer números apresentados sobre educação).

A candidata do PSOL a presidente seguiu os conselhos que tem recebido do pefelista César Maia. Falou com a voz macia, sorriu, não gritou e chamou, vejam só, William Boner de "meu amor".

Já os apresentadores do "JN" parecem não terem feito o dever de casa. Numa entrevista recente ao "Roda Viva", da TV Cultura, Heloísa Helena já tinha dado um baile nos jornalistas entrevistadores (confesso: eu estava lá). Mas a senadora socialista de Alagoas havia oferecido muitas pistas de como poderia ser apertada. Por exemplo: parece que tudo no governo dela será por ato de vontade pessoal. O que é isso? Um governo unipessoal? Como ela lidará com o Congresso? Não vai liberar as emendas? E se o Congresso ficar paralisado e paralisar o país? Pois é, essas perguntas ficam para outra oportunidade.

É verdade que HH quase foi emparedada por Fátima Bernardes, que leu o programa do PSOL propondo a expropriação de fazendas produtivas ou improdutivas para fins de reforma agrária. Boa! Só que Heloísa Helena não engasgou, sorriu e deu aquela enrolada básica: disse que programa de governo é diferente de programa de partido etc. E sorriu.

Talvez nessas horas tenha faltado um pouco de presença de espírito aos apresentadores do "JN". Por exemplo, dizer: "Senadora, é seu direito não responder às perguntas, mas nós temos que registrar objetivamente que a sra. está fugindo de algumas questões". Ou então: "Quando a sra. fala que programa de partido é diferente de programa de governo não está incorrendo no mesmo equívoco, ou até traição, que a sra. acusa o PT de ter cometido? De o presidente Lula ter se comportado no Planalto de maneira diferente daquela de quando era candidato?".

Bom, agora, já foi.

Diante dos fatos de momento e das últimas notícias, vamos combinar: ficou péssima a situação dos tucanos. Heloísa Helena, mostram alguns números, já passou Alckmin no Rio. É difícil de acreditar que ela possa se consolidar em segundo lugar no país inteiro. Mas nunca esqueçamos: o crescimento de um candidato depende dele e da ruindade eleitoral de seus adversários.


Nota de Dadá: "maneira bovina" fo genial! hahahaha...

Hoje é o meu! Vamos ver como ele se sai.

Abs,

Cristovam Dadá

8 comentários:

Manelé na Tela disse...

Helô dá show

Por Ricardo Noblat

A senadora Heloísa Helena, candidata do PSOL à presidência da República, fez bem o dever de casa antes de ser entrevistada há pouco pelo Jornal Nacional. Ela se saiu melhor do que o candidato Geraldo Alckmin, do PSDB, entrevistado ontem.



Alckmin foi pego de surpresa pelas perguntas agressivas dos jornalistas William Bonner e Fátima Bernardes. Respondeu-as com bom senso. Não se atrapalhou com nenhuma. Mas também não aproveitou nenhuma para dizer como governaria.



Heloísa aproveitou a maioria das perguntas para vender suas idéias. E não se deixou acuar pelos entrevistadores. Houve momentos em que os ignorou solenemente. E ao contrário de Alckmin, falou a maior parte do tempo olhando para a câmera.



Quando diante de uma pergunta se arriscava a perder a paciência ou a levantar a voz, chamava Bonner ou Fátima de "meu amor" ou de "meu filho" ou de "minha flor, sorria, e dizia o que queria dizer - não o que os entrevistadores esperavam que dissesse.



Não perdeu a chance de lembrar sua condição de mulher, de mãe e de nordestina que foi pobre. "Nós, mulheres, não suportamos mentiras, traições", disse. Para no fim prometer que fará um governo que acolha as pessoas como as mães acolhem os filhos.



Fez questão de destacar que manterá o programa Bolsa Família, caso se eleja - o maior cabo eleitoral da candidatura Lula. Para livrar-se da acusação de que é uma radical, contou que aprendeu a ser socialista lendo primeiro a Bíblia.



E riu quando Fátima citou trecho do programa do PSOL sobre reforma agrária e perguntou se ela concordaria com a ocupação de terras produtivas.



- Meu amor, a Constituição não permite. Programa de governo não pode se distanciar da lei - retrucou.



Garantiu que está preparada para governar o país. E quando Bonner lembrou que ela só ocupou até aqui um único cargo executivo (o de vice-prefeita de Maceió), sorriu e matou a pau:



- Mas Fernando Henrique não ocupou nenhum cargo executivo antes de ser eleito presidente. Nem Lula.

Manelé na Tela disse...

Ladeira abaixo

Por Lucia Hippolito

Reeleição significa, na prática, mandato de oito anos com um plebiscito no meio. Ao fim de quatro anos, o governante dirige-se ao eleitor e pergunta se ele gostou de seu governo. Se gostou, reelege. Se não gostou, muda. Simples assim.

Por isso mesmo, é muito desigual a disputa em que um dos candidatos busca a reeleição, seja prefeito, governador ou presidente da República. Ainda mais no Brasil, com o farto uso da máquina pública em favor do governante de plantão, chame-se ele Luiz Inácio Lula da Silva ou Fernando Henrique Cardoso.

Isto não significa, no entanto, que a reeleição esteja garantida. Os exemplos mais próximos, de Marta Suplicy em São Paulo, em 2004, e de George Bush pai, derrotado por um obscuro governador do obscuro estado do Arkansas (Bill Clinton) em 1992, mostram que não existem favas contadas.

Mas é preciso que algumas condições se verifiquem. Por exemplo, uma crise econômica muito séria, que desperte o eleitorado da inércia e o faça buscar outras opções. Ou ainda uma profunda crise moral e ética, que retire do governante que tenta a reeleição condições mínimas de legitimidade para exercer um segundo mandato. Ou ainda mais, uma profunda crise política, que também inviabilize a reeleição.

Mas não basta. Mesmo com a ocorrência de uma ou de todas as crises acima listadas, é preciso que o principal candidato de oposição se apresente como alternativa real. Caso contrário, os eleitores preferem arriscar mais um mandato.

Alckmin não conseguiu, até agora, apresentar-se como alternativa verdadeira. Não se consolidou como o anti-Lula.

Não pode desfraldar a bandeira da ética porque tem três bolas de ferro nos pés. A recusa do PSDB em punir o senador Eduardo Azeredo, beneficiário do esquema de corrupção de Marcos Valério, acabou caindo no colo do candidato tucano.

Como o PSDB pode cobrar ética do PT se não puniu o seu senador beneficiário do valerioduto?

A segunda bola de ferro é a mal explicada história da destinação de recursos da Nossa Caixa, o banco estadual, a aliados selecionados do governador. Não dá para atacar o aparelhamento da máquina pública pelos petistas, nem a apropriação do aparelho de Estado pela sanha companheira, quando se tem um passivo desses.

E a terceira bola de ferro é, não vamos nos esquecer, o guarda-roupas da primeira-dama paulista. Tenham sido 400 vestidos ou 40, não se pode acusar o governo Lula de não saber distinguir o público do privado quando os vestidos de madame cismam de sair do armário para assombrar o candidato.

Alckmin tampouco pode se apresentar como campeão da gestão depois que a incompetência do governo paulista na questão da segurança pública passou a ser exposta de forma tão dolorosa. Sim, o combate ao crime organizado tem que ser uma cruzada nacional, mas o governo Alckmin não fez sua parte.

Finalmente, não dá para acusar o governo Lula de abafar CPIs e atrapalhar investigações. Não dá quando o governo Alckmin tratou as CPIs na Assembléia Legislativa como todos os Executivos tratam, isto é, abafou o maior número possível.

Em suma, Alckmin está sem discurso para combater o governo Lula. Está sem partido, porque os tucanos parece já terem jogado a toalha. Está sem aliados, porque a Pefelândia também não parece disposta a arregaçar as mangas.

Mesmo com tudo isto contra, se Geraldo Alckmin tivesse o carisma pessoal de Lula, ainda poderia se fazer ver como o anti-Lula. Mas não é caso do candidato tucano.

Quem está começando a ser vista como o anti-Lula é a senadora Heloísa Helena. Mesmo perdendo, vai arrebanhando os insatisfeitos pelo caminho. Está fazendo uma bela jornada.

Manelé na Tela disse...

JN espanca tucano

Por Fernando Rodrigues

Foi o massacre da serra elétrica. A entrevista que Geraldo Alckmin (PSDB) deu há pouco ao "Jornal Nacional", da TV Globo, deixou o tucano em péssima situação. Nem o mais petista dos petistas esperaria tanto aperto.

Sentado à bancada o "JN", Alckmin ouviu que o ex-presidente do PSDB Eduardo Azeredo usou irregularmente dinheiro público e envolveu-se com o valerioduto (isso mesmo, com "Marcos Valério", que foi citado nominalmente por Fátima Bernardes). Ouviu de William Bonner que a Nossa Caixa tinha usado dinheiro de forma irregular para colocar publicidade em veículos pequenos (nessa hora, segundos preciosos foram perdidos, em rede nacional, ao vivo!!, para Alckmin ficar se explicando).

E teve, é claro, a segurança pública... Poderia ter havido dia pior para o tucano ir ao "JN"? Depois dos mais de 70 ataques de hoje, impossível. Ele até que tentou se explicar, mas foi mal, foi mal.

O candidato do PSDB se enrolou com uma pergunta de Fátima Bernardes sobre educação. "Eu não tenho esse dado", respondeu com sinceridade --desmontando a imagem de gestor público que tem tudo na ponta da língua.

No final, Alckmin falou, pela primeira vez, de frente para a câmera. Suas prioridades são saúde, educação e segurança pública, disse. Talvez tenha sido tarde, depois de desempenho tão desapontador.

Agora, é esperar para ver qual será a técnica e a abordagem com Lula --esse também um candidato cheio de respostas nunca dadas sobre atos de corrupção em seu governo.

Manelé na Tela disse...

O blog de Fernando Rodrigues é um dos piores que existem na internet sobre política. Não porque ele demonstre simpatia pelo PT ou ojeriza pelo PSDB. Como blog é pessoal, não vejo problema nisso.

No entanto, o blog dele, que é hospedado no UOL, é o mais pobre em notícias, em análises e em comentários políticos. Pouco atualizado, o que você mais encontra é o "drive político" do dia ou da semana, ou seja, a agenda do que vai acontecer.

Por isso, quando encontramos algo que seja realmente da pena e da cabeça desse jornalista, é algo pra bater em Alckmin ou elogiar Lula.

Poucos dias atrás, ele cometeu a leviandade de insinuar a culpa de Serra no caso das sanguessugas ao mostrar fotos em que o ex-ministro aparece junto com sanguessugas numa cerimônia de entregas de ambulâncias.

Sabe-se bem que político aparece em fotografias ao lado de tudo que é gente e isso não indica envolvimento de ninguém. Tanto é que logo pipocaram fotos de Lula em entregas de ambulâncias ao lado de acusados. Isso prova a culpa de Lula? Também não.

Mas... sobre HH até concordo com ele. Era previsível que ela ia se sair bem como se saiu. Mas ela não deu baile quando esteve no Roda Viva não, Boris Casoy não comeu pilha dela como comeu Rodrigues.

Alckmin apenas teve a infelicidade de ter caido em primeiro no sortei para as entrevistas. Todos se surpreenderam com as perguntas de jornal. Tanto foi assim que o que ficou na memória do público e o que foi mais comentado sobre a primeira entrevista não foram as respostas, e sim as perguntas.

Eu tenho muitas reservas tanto a entrevista de Alckmin quanto a postura da Globo. Mas já escrevi demais.

M.

Manelé na Tela disse...

M.

Não duvido que Fernando Rodrigues seja isso tudo que você falou. Entre você e ele, fico com você.

Mas não dá para negar que o cara tem estilo, no mínimo. E é hilário.

Sobre o desempenho pífio de Chuchu no JN, esta não foi uma opinião isolada de Rodrigues, como os textos de outros autores mostram. Por isso foram postador.

Cristovam Dadá Rodrigues

Manelé na Tela disse...

Bom. Sobre o desempenho de Alckmin na entrevista para o JN, eu também tenho minhas reservas. Por mim ele seria mais rápido e direto.

Mas isso eu deixo pra lá. Só me surpreende o fato de não termos mais jornalistas que buscam pela verdade. Cai a máscara. O que temos são jornalistas que se querem entendedores de marketing político.

Explico: impressionante como a maioria da imprensa não se interessou em saber se as respostas dadas por Alckmin eram verdadeiras ou se eram suficientes para comprovar a veracidade de sua defesa. Não, ao contrário, os jornalistas só se preocuparam com o tom das perguntas do JN e com o fato dele ter sido posto contra a parede.

Por isso, como Noblat comenta (e não foi o único), Alckmin respondeu bem, mas não ganhou voto. Ou seja, Heloísa Helena poderia dizer que 2 + 2 são cinco que passaria em branco, desde que o dissesse, "meu amor, dois mais dois são cinco". Não importam as respostas, o importante é sair bem na foto; tanto foi assim que ninguém comentou as respostas de Alckmin, e sim sua imagem. E a verdade, jornalistas?

Alckmin não foi bem porque apenas se defendeu. Concordo. Mas veja, ele é criticado (!) porque sua imagem é a de um bom administrador público.

Claro! o que ainda se procura no país é um "pai dos pobres".

E está a dicotomia da eleição:

1) Alckmin: perfil administrador; frio, impessoal, discreto, racional e pragmático; "mas", competente.

2) Lula: perfil populista; "pai dos pobres", ufanista, paternalista e assistencialista; mas, "nunca sabe de nada".

O brasileiro infelizmente ainda procura por uma babá na presidência. Quer um tutor, um Estado paternalista, um "grande pai" que estende seus braços pra proteger seus "filhos carentes". Procura quem lhe passe a mão na cabeça como um filho em busca de mamata paterna, que busca vantagem por sua filiação e proximidade.

Triste pensamento.

M.

Manelé na Tela disse...

Assino em baixo, Marcinho.
Só faria a seguinte correção, no trecho sobre Lula:

2) perfil populista; "pai dos pobres", ufanista, paternalista e assistencialista; mas, LADRÃO.

Manelé na Tela disse...

Quem postou acima fui eu, Cristovam Dadá.

Esqueci de assinar, foi mal.

Bjs!