quarta-feira, novembro 28, 2007

Tristeza desgraçada

Jadson Celestino, Djalma Lima, Anísio Marques Neto, Midiam Andrade Santos, Márcia Santos Cruz, Milena Vasques Palmeira e sua irmã, Patrícia Vasques Palmeira. Eles morreram domingo na Fonte Nova. Mas poderiam ter sido, perfeitamente, Rafson Ximenez, Marina Silva, ou eu, os manelés que sei que estavam no estádio.

Depois de três dias de luto, tristeza, revolta e muita raiva, resolvi falar sobre eles. Os sete companheiros tricolores que tiveram que doar a própria vida para que tivéssemos mais segurança nos estádios de futebol do Brasil.

Mortes causadas pela negligência de governos estaduais que não se preocuparam com o maior lazer da população soteropolitana, o futebol. Não queria que essa tragédia acontecesse em lugar nenhum. Mas acontecer aqui, foi especialmente cruel, ainda mais com a torcida do Bahia. A que mais lota estádios no país, coitada, foi castigada por exercer sua paixão. Literalmente, os sete tricolores morreram de amor. Enquanto outros vivem de ódio.

Ódio do governo estadual, que tinha acesso a sucessivos laudos condenando a estrutura física da Fonte Nova e não tomou nenhuma providência. Prova disso foi, no início do ano, ter interditado o anel superior do estádio e tê-lo liberado no segundo sem qualquer tipo de reforma.

Ódio de um governador alienado que declarou que, se o desabamento tivesse acontecido alguns degraus abaixo, não haveriam mortes, porque os torcedores cairiam do lado de dentro do estádio. Logo depois, o próprio idiota admitiu que não deveria te falado isso. Pra que abriu a boca, imbecil?

Ódio de parte da imprensa que, movida por verba publicitária pública, esquece seu papel contestador e faz campanha para atenuar a responsabilidade do poder público na tragédia.

No momento do acidente, eu tava bem longe da Bamor. Aliás, não gostava de ficar lá. O lugar mais emocionante da torcida do Bahia é também o mais perigoso. Até então, eu não sabia que era o local que tinha a estrutura física mais fragilizada. Mas lá tem muita confusão, tumulto, brigas, drogas, e eu gosto de exercer minha religião em paz.

No entanto, eu passava diariamente embaixo da Bamor, do lado de fora do estádio. Meu carro só ficava no pátio em frente ao portão 13. Tinha que subir a ladeira para entrar no estádio e depois descê-la, para pega-lo. Como tenho problema no menisco, eu sempre preferia a escada, onde caíram os corpos, à rampa. Força menos o joelho. Numa dessas milhares de vezes que fui à Fonte Nova, poderia muito bem ter sido atingido por um pedaço de lage ou por um corpo.

Estejam certos, eu só fui tantas vezes ao estádio porque não sabia do risco que estava correndo. Soubesse que poderia morrer a qualquer momento, não pisaria lá. Amo-me mais que ao Bahia ou qualquer outra coisa.

Foda é saber que as autoridades sabiam e nada fizeram. Em 2000, quem freqüenta o estádio vai lembrar, o setor da arquibancada que caiu foi interditado por um ano, pelo excesso de vibração no local. Em 2001, o local foi reaberto sem que nada fosse feito.

Foram inúmeras as chances de tomar uma providência. Mas Wagner e corja, só anunciam agora a drástica medida de demolir a Fonte. Para completar, diz que o governo não vai indenizar as vítimas. Disse que seria um atestado de culpa.

E a culpa é de quem? Provavelmente, do torcedor. Quem mandou ficar pulando feito louco sobre as arquibancadas? O torcedor é um idiota mesmo. Assistiu às interdições de 2000, a do início do ano, e continuou acreditando que o estádio era seguro. Babaca. Tinha mais é que morrer mesmo.
Hoje, procuram-se culpados. O fato é que sete pessoas não podem ir pra um estádio de futebol, morrerem lá e ninguém ser responsabilizado por isso. Alguém tem que pagar. Foda é quem morreu. A vida deles não volta mais.

O desastre acabou com qualquer tipo de sentimento positivo que eu poderia sentir naquele dia. Aliás, preparei-me pra emoção. Mas me decepcionei de novo. Incrível! Até quando as coisas dão certo em campo, é aquela sentimento de frustração que parece infinito.

Já tava puto com o desempenho do Bahia no jogo. O time entrou em campo, para jogar em casa, com três volantes, ficou tocando bola de lado no final, e abdicou da vitória mesmo sabendo que ela era essencial para sermos campeões. Mas também, o que esperar de um clube que transformou a mediocridade em seu lema e companheira eterna? Parece que estamos mesmos fadados à infelicidade. Perdemos o direto de sermos felizes.

E agora perdemos também nossa casa.

Quando é que essa maldição vai acabar?

Ainda tricolor, mas não sabendo mais até quando vai aguentar tanto sofrimento...

DS

2 comentários:

Manelé na Tela disse...

Também foi um dia triste e tenso pra mim. Fiz umas dez ligações para amigos em busca de notícias. Todos bem, mas alguns estavam bem perto de onde tudo aconteceu e ainda em estado de choque. Não é possível que a única punição para a tragédia seja para a própria Fonte Nova e os torcedores DA Bahia.
Alguém tem que ser preso por isso. Cadeia mesmo, jaula. Bobô, Jaques Wagner, o secretário, seja lá quem for o responsável. Acho que não tem um só. Tem que se apurar também a responsabilidade do Bahia e de seus dirigentes e puni-los severamente. Se fosse fora do Brasil, e ficasse comprovado que o Bahia tem responsabilidade (por ter vendido ingresso a mais, por exemplo, ou por ter se omitido diante das evidências que condenavam a Fonte Nova), provavelmente a torcida não teria nada pra comemorar agora, nem o acesso à série B. E os dirigentes nunca mais entrariam em um campo de futebol.

Amoêdo

Manelé na Tela disse...

Que enrrascada Bobô! Melhor seria ter continuado comentarista de tv. Foi se meter com administração pública, se fudeu. Por falta de aviso não foi. Mas acho que não vai dar em nada, infelizmente. E a gente ainda precisa rezar para que algo semelhante não ocorra em outros lugares, como lembra hoje a Tribuna. Há um bom tempo se vem criticando a estrutura da Estação da Lapa, né não?! Até mãe Diná condenou!!

Márcio