Alguém certamente havia caluniado Josef K. quando numa manhã ele foi detido sem ter feito mal algum. Ninguém nunca soube qual era a acusação e nem quem o acusava. A única coisa que se percebia era o labirinto sem fim de uma trama indecifrável da qual K. se viu de repente enredado e nunca conseguiu se desvencilhar. Isso no século XX; e hoje, que mudou?
Algo de errado havia para Josef M. ter sido intimado a apresentar defesa de uma acusação sem crime. Deve M. aparecer com as provas que dispuser para advogar contra um artigo de número dezessete. Ninguém sabe do que se trata, nem o conhecimento humano da burocracia, nem o conhecimento em bits do computador. Este último apenas diz: “http error”.
Nesse tento, munido da notificação que lhe deram, M. se dirigiu às instâncias responsáveis para solucionar seu problema. Na sua primeira tentativa mandaram-no direto para a instância imediatamente superior. Ônibus, dúvidas, imaginação, só essas poucas somadas já dão em angústia. Nunca a elas some mais nada, ainda mais a inoperância de um ser incerto.
Pois bem, chegando lá, primeiro foi a fila para o agente de informações. O agente, claro, apesar da titulação, nada sabia, apenas dera a M. a senha 4562679, que representava o número 15, o de sua chamada para novas informações, a velha do computador. Desculpem, é difícil se desvencilhar de estereótipos quando vamos acompanhando o 1, 2, 3... n em filas.
Quando finalmente o 15 chegou, a informação: “protocolo 24527, você precisa resolver com o colegiado da sua faculdade; não sabemos qual o problema, eles lá devem te informar”. Foi quando M. finalmente se pronunciou. “Estou sendo acusado de quê? Quem me acusa? Com base em quê?”. “Não sabemos, senhor... M... o senhor precisa falar com o seu colegiado”.
Como se sabe, porém, sendo a Bahia e sendo a bichinha chefe do colegiado, nada melhor do que uma praia. Por isso M. terá de esperar até amanhã para saber o que é esse tal de art. 17. Desconfia-se porém que ele nada saiba, ou nada queira dizer, por preguiça, malemolência, inaptidão, viadagem... chamem como quiserem... M. seguirá seu dia de K.
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Márcio
quinta-feira, fevereiro 16, 2006
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