sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Killing an arab

“(...) Foi então que tudo vacilou. O mar trouxe um sopro espesso e ardente. Pareceu-me que o céu se abria em toda a sua extensão deixando chover fogo. Todo o meu ser se retesou e crispei a mão sobre o revolver. O gatilho cedeu, toquei o ventre polido da coronha e foi aí, no barulho ao mesmo tempo seco e ensurdecedor, que tudo começou. Sacudi o sol e o suor. Compreendi que destruíra o equilíbrio do dia, o silêncio excepcional de uma praia onde havia sido feliz. Então atirei quatro vezes ainda num corpo inerte em que as balas se enterravam sem que se desse por isso. E era como se desse quatro batidas secas na porta da desgraça”.

Esse é o trecho que finaliza a primeira parte do livro “O Estrangeiro”, de Albert Camus. É meia noite e cinco e interrompi um sono que se agitava a relembrar a imagem dessa cena que acabara de ler. É nessas noites que levanto de madrugada pra escrever à meia luz, só pra satisfazer a insônia. Desta feita foi a famosa cena do assassinato de um árabe pela indiferença e a apatia de um estrangeiro metafórico. No man’s land. Uma vida árida, sem muito sentido além do próprio egoísmo, onde a impassibilidade é impávida e o amor se trucida por uma indiferença violentamente deletéria. Não acabei de ler o livro; não irá durar.

Boa noite para todos

Márcio

O livro e a cena inspiraram o The Cure a compor a famosa música que dá o título a este post, “Killing Na Arab”, que está no primeiro disco da banda, “Boys Don’t Cry”, excelente por sinal.

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