sábado, fevereiro 04, 2006

Last Days: cinema suicida.

Gus Van Sant finda com Last Days, a chamada “Trilogia da Morte”. Iniciada com Gerry, em que a morte é acidental, sendo a acção suportada pela existência de diálogos.
Seguiu-se Elephant, em que a morte é um acto de loucura (massacre do liceu do Columbine), onde a acção decorre com um recurso primordial á imagem e ás alterações temporais. Em Elephant, a morte dá-se apenas em termos físicos. Trata-se apenas da consumação de um acto, outrora iniciado (todos os intervenientes encontravam-se, a priori, espiritualmente mortos).
Surge Last Days e num circundante esplendor dá-se o seu desfecho, através da exploração do factor máximo, a música/som, como complemento e suporte para todo o desenlace do enredo. Este, é mais importante que o factor diálogo (quase inexistente), provocando ira, cólera, amargura e a sede do “doce” beijo da morte.
Last Days, é muito mais que um mero biopic. Baseado nos derradeiros dias do líder exímio dos Nirvana (Kurt Cobain), Van Sant apresenta-nos Blake (Michael Pitt), o símbolo de uma geração que se apresenta “só” numa casa “cheia”, perdido num labirinto que é consequência e cliché do mundo da fama. Blake apresenta-se moribundo, já morto (a nível psicológico e espiritual), inerte numa casa impessoal e caótica, onde todos podiam entrar e desfrutar dos seus prazeres. A forma como Blake é filmado ao longo do filme, quase sempre de costas, elucida-nos da sua posição para com o mundo. O plano em que o telefone toca e Blake continua a sua rotina, é a melhor mise-en-scéne disso mesmo.
É no seu secret secret spot, tão perto e ao mesmo tempo tão longe da sua casa, que Blake encontra o seu EU. Falamos da pool-house, da floresta e momentaneamente a sala de música, onde apenas se limita a viver, a expressar os seus medos e a sua raiva, sem ser confrontado.
Last days, é mais que um inspirado reviver dos últimos dias de Cobain, que um labirinto cliché e obligatoire para todos aqueles que pisam o passeio da fama do Rock. Este é o fechar de um ciclo que tanto pertence a Cobain, a Blake, como ao mais comum dos mortais. Sendo o seu fecho, a soberba cena da morte de Blake. Brilhantemente captada por Van Sant e clímax do filme.

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