O barco em que íamos seguia lento o seu curso rotineiro. E lá estávamos nós, cansados, com fome e sem muito o que falar. É uma travessia de uma hora e meia, acredito, é bem monótona, e nesse tempo não há muito o que fazer a não ser se imaginar numa das cenas de Apocalipse Now.
No barco havia uma família repleta - pais, filhos, sobrinhos, primos, cunhados... E eu passei quase toda a viagem pensando no quão patético era aquele velho de sunga, de boné pra trás, óculos escuros e sem camisa, bebendo, gritando e fazendo piadinhas, se amostrando como adolescente!
Quem disse, meu deus, que a velhice é coisa bonita??
Enfim, lá íamos nós. Eu, tentando dormir, jazia ao centro da embarcação, Zé, sentado à minha frente, contemplava a paisagem ao fundo, Broa, por sua vez, ia sentado no canto, ao lado de Borestia, que, na lateral do barco, dormia, claro, só para não perder o costume de sempre.
Eis em fim o momento em que vimos um casal de mineiros diante de nós. Parecia um casal, e depois fomos saber que até tinham sido, mas não eram mais, eles tinha só se encontrado ali por acaso. Enfim... De repente, o mineiro levantou e foi se sentar ao lado de Borestia, que dormia.
O mineiro logo puxou papo. Primeiro com Zé, que de início não parecia dar muita bola. Broa, no entanto, sempre amigável, sustentou a conversa até que Borestia acordou de seu sono e encarou o mineiro pela primeiríssima vez. Pronto, “já é”, estava feito o encanto!
Olhos nos olhos, era apenas questão de tempo, e como disse Zé:
- Ou esse cara é muito carente, ou está afim de Borestia!
Esse tal rapaz, de nome João, era até gente fina. Meio maluco, é bem verdade, mas engraçado. Façamos justiça: mineiro é gente boa, ao contrário dos paulistas, pernambucanos e cariocas – que, aliás, se superam a cada dia na nojentice, com exceção das amigas de Cara de Rato!
Pois é, até hoje não sabemos ao certo o que se deu entre João e Borestia, sabemos apenas que a química pegou em cheio. Borestia mudou, ficou estranho, individualista, sumia com seu novo “amiguinho” e começou até a falar umas frases estranhas e comprometedoras, como:
- Hoje eu vou dar o biziu!
É, é isso mesmo, essa era uma entre outras expressões que Lontra gritava mais incessantemente após conhecer seu novo amiguinho... Era uma questão de tempo, já dissemos, e o tempo não tardou para demonstrar o que preconizou... Vocês vão ver!
Márcio
quarta-feira, janeiro 05, 2005
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2 comentários:
Marcio!!! Antes de mais nada... Vai se fuder!!! O mineiro foi só um trampolim p as mineiras, vc sabe... E o cara é gente boa. Como vc mesmo disse, diferente dos paulistas etc... Mandei até um email p ele...
Borestia, se eu acreditasse nesse seu suposto "trampolim", eu diria que você é um promíscuo interesseiro dissimulado, mas como eu não acredito, só tenho a ficar alegre, e não minto, supreso também, pela pressa com que a saudade dilacera seu coração...
O amor é lindo!
Márcio
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