Picuinhas a parte, interessante a discussão sobre futebol. Primordialmente, a discussão sobre o papel do futebol brasileiro e sua relação com o argentino. E com o futebol do resto do mundo, diga-se de passagem. Vale ressaltar duas (o)posições importantes e complementares. Antes que um se julgue iluminista e outro se coloque - acredito que ironicamente - no breu das trevas, é preciso que se fale em complementaridade.
O que falta ao jornalismo esportivo brasileiro é justamente o que sobra ao nosso “ignorante” blogger-comentarista. Seus comentários são desprovidos de paixão e a crítica baseia-se simplesmente na observação dos fatos. É simples assim: o brasileiro é realmente tão maldoso, tão preconceituoso e tão técnico quanto o argentino, o inglês ou o italiano. “Mas os argentinos batizaram a água do Branco na Copa de 90...”, defenderia um. É, mas o Túlio matou uma bola no meio do braço e fez o gol que praticamente garantiu o título brazuca da Copa América.
“Mas e a mão de Deus do Maradona?, e as pernadas do Simeone?, e a malícia do Caniggia?”, voltando à carga. Já que o assunto é polêmico, começo a me arriscar. Quem foram os mais maldosos nos últimos confrontos Brasil x Argentina? De longe aponto os brasileiros. E aí entram questões históricas e culturais, que em boa parte são alimentadas por nós, ditos jornalistas esportivos. Os Simeones, Batistutas e Caniggias vivem em nossa memória. E basta uma derrota para algum argentino numa semifinal de Libertadores para que a rivalidade VIRIL seja reacendida. O palco do próximo Brasil x Argentina será uma guerra, criada principalmente pelos jornalistas. Tanto os daqui, como os de lá.
Os brasileiros entram armados quanto à possibilidade de um revide argentino. Os argentinos, alimentados pelos noticiários locais, que sem sombra de dúvida relembrarão antigas e novas pendengas. Aliás, acredito que os argentinos têm duplo motivo de preocupação. Além do citado anteriormente, cria-se a tensão sobre o que se passa na cabeça do brasileiro. Isso, afora a rivalidade que já cerca o clássico.
Nada disso aconteceria se os jornalistas tratassem o fato de maneira correta. É justa a prisão do argentino Desábato? Sim, os crimes, sejam de qualquer natureza, devem ser punidos com o rigor que a lei determina. Mas voltando pouco mais no tempo, quantos casos de racismo antecederam esse episódio no Brasil? E qual foi a punição? Bom, em casos de flagrante pelas câmeras de tv (que, vamos deixar claro, não fica explícito no caso), um ou dois jogos de suspensão e um pedido de desculpas foram suficientes. Em caso contrário, a vida continua. E os torcedores? De onde veio aquela banana no jogo comemorativo da SeleGlobo, como diria o Jornal A Tarde? E qual foi a punição? E abriu-se investigação do caso? A atitude foi menos racista?
A busca pela neutralidade e imparcialidade passa longe da cabeça dos comentaristas esportivos. Pelo amor de Deus, Brasil e Uruguai fizeram uma partida excepcional? O Brasil deu show ao garantir um empate com um gol completamente impedido do Emerson? Os chutes de fora da área do Roberto Carlos são o suficiente?
Nossos jogadores podem ser considerados sim, fantásticos. E esse é o ponto em que discordo em partes dos dois opositores desta pendenga blogger. Não só no aspecto do espetáculo, mas também no caráter eficiência. E discordo de Márcio. Ninguém é tão importante para um grande clube europeu hoje quanto Ronaldinho Gaúcho (Barcelona), Adriano (Inter de Milão) e Kaká (Milan). Me arriscaria a afirmar que o Ronaldo, mesmo não estando em grande fase, decide jogos para o Real Madrid como nenhum outro jogador no mundo. Acredito que dos estrangeiros, apenas o Shevchenko poderia ser enquadrado nessa lista. Quem sabe o Henry, peça fundamental do Arsenal.
Mas quando a questão descamba para qualidade técnica ou habilidade, tenho minhas dúvidas. E aí, meu amigo Borestinha, você é o meu alvo. Ser técnico ou habilidoso vai da forma de jogar de cada país. As características de cada local, como você mesmo citou. O que é ser mais técnico, dar um passe ou um drible preciso? O que é habilidade, colocar a bola no meio das canetas do adversário ou na cabeça de um companheiro na área? Um desarme preciso de um zagueiro me soa tão belo quanto um gol de bicicleta. E viva os Gamarras, Nestas, Baresis e Matheus, tanto quanto os Peles, Ronaldos, Maradonas, Cruyffs e Garrinchas.
Se a questão é espetáculo, ok, me rendo aos últimos. Mas afirmo categoricamente. Ver uma jogada argentina trabalhada em alta velocidade, com toques de primeira e uma conclusão com preciso senso de colocação, me é tão gratificantes quanto ver o Ronaldinho Gaúcho driblar três adversários e encobrir o goleiro. Talvez o primeiro lance seja menos espetacular e vendável, mas não menos belo ou interessante.
E aí retorno a questão. Quem é mais habilidoso ou técnico? O Ronaldinho Gaúcho, que dribla com maestria, ou o David Beckham, que há alguns jogos não vejo errar um passe? No futebol, uns tratam habilidade como capacidade de dar espetáculo, de fazer o impensável. O técnico é tratado como o que cumpre mecanicamente sua função em campo. Se assim fosse, empate em 1x1 entre o brasileiro e o inglês. Não acredito, porém, na prerrogativa (como diria Márcio). Habilidade, em minha modesta opinião, é a capacidade de fazer bem alguma coisa. Ou então, desenhar seria uma habilidade maior do que dirigir ou varrer uma casa. Ambas me parecem habilidades, mesmo que distintas. A técnica para mim, nada mais é do que saber se utilizar das ferramentas que lhe foram dadas e fazer o melhor. No caso do Beckham, o passe, no caso do Ronaldinho, o drible.
Sou insistentemente chato quanto ao tamanho das mensagens, mas dessa vez vou me exceder. Márcio e Borestia o fazem sempre e merecem o troco. Como no início do texto, Márcio já foi o complemento de Alexandre, que esse seja agora o complemento do primeiro. Sem a paixão, o espetáculo do futebol vira “isso”. Um comentário seco acerca do que se viu em campo. Sem cor local, sem emoção, sem carisma.
Analisar uma partida de futebol não é apenas dizer qual foi o placar e apontar os motivos do resultado. É acompanhar com paixão o dia-a-dia dos clubes e dos jogadores e saber que o fulaninho está jogando fora de posição, ou com dores na coxa. É observar que o Ronaldinho joga melhor solto na esquerda do que como atacante no esquema de Parreira. É perceber que o Ronaldo nunca mais será o fenômeno de antes, por que ele mudou sua forma de jogar, por que corre menos, por que está mais pesado. E não só por que está “gordinho”, mas por que optou por um estilo mais brigador, trombador, mais de área.
Quem se envolve no universo do futebol e torce para que um Robinho se destaque, percebe que ele já ganhou alguma massa muscular, não cai mais no primeiro encontrão e aprendeu a bater no gol. Características fundamentais pra que? Para dar certo no futebol europeu. E para dar certo na Seleção Brasileira, que não conta com nenhum “brasileiro” no seu 11 inicial. Para os “leigos”, Dida (Milan), Cafu (Milan), Juan (Bayer Leverkussen), Lúcio (Bayern Munique) e Roberto Carlos (Real Madrid); Juninho (Lyon), Emerson (Juventus), Zé Roberto (Bayern de Munique) e Kaká (Milan); Ronaldo (Real Madrid) e Ronaldinho Gaúcho (Barcelona).
Não há como falar do Flamengo sem a paixão de acompanhar o seu dia-a-dia e descobrir que o time não é ruim só porque não tem dinheiro para contratar. Mas também por que contrata errado, por que tem fama de mau pagador, por que tem um departamento de futebol amador que vive de sugar o clube, por que o recém-reformado gramado da Gávea encheu de água na primeira chuva, por que só agora os contratos das revelações passaram a ser prorrogados com antecedência e por que o futebol carioca há muito vive das glórias do passado. Do tempo onde o Rio de Janeiro tinha o futebol mais bonito e requintado do Brasil. Bahia e Vitória vão pela mesma linha, mesmo que não sejam papões de títulos. Ao bater em Ipitangas, Camaçaris e Camaçarienses, se acham preparados a disputar um Campeonato Brasileiro. Ledo engano.
Faço apenas uma última colocação. Aos que acolheram Márcio como leigo, digo que nunca o vi acompanhar futebol com tanto afinco como nos últimos anos. Não só o brasileiro, como o europeu. E mais, não se nasce apaixonado por futebol, o esporte encanta aos poucos por sua peculiaridade. Pelo inusitado. Pelo surpreendente. Tão surpreendente quanto ver o próprio gastando seu tempo, que não acredito estar tão escasso, assistindo a jogos de futebol e a comentar eventos esportivos. Jornalistas esportivos, segurem-se nos seus lugares. Nasce aqui um cronista esportivo?
Deduca@uol, que já está de saco cheio de tanto escrever, apostando nos novos talentos.
domingo, maio 08, 2005
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Um comentário:
Pois é, no final, o placar: Eduardo 2, Márcio/Boretia 0...
Márcio
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