Cada dia que passa e cada comentário que ouço a respeito me convencem de que não entendo nada desse futebol dos brasileiros. Há quem defenda que por causa disso os ignorantes devem se calar, só apenas os letrados, diletantes e “experts” tem direito a voz – não é mesmo, Borestia?
Mas como eu sou ignorante e insistente e implicante eu ignoro esse pressuposto. O mundo particular do futebol dos brasileiros me atordoa com suas veladas prerrogativas. Eu confesso que talvez seja a minha inocente ignorância que se estarrece com nosso corporativismo futebolístico.
Hoje mais uma vez ouvi aquela imagem traduzida em comentários do futebol brasileiro como o justo e o bom e o verdadeiro. E não é só “corporativismo” o que aqui aparece. Nosso mundinho futebolismo também está repleto de pretensão preconceituosa e chauvinista e xenófoba até.
Dizem alguns que sou chegado num exagero quando não se percebe que exagero é se cegar quando ele não existe. Ontem mais uma vez vi aquela história entre brasileiros bons-moços e argentinos maldosos, entre “las gallinas” com síndrome de vítimas e o mau caratismo portenho.
Uma história já antiga, final da Copa América, Brasil vs Argentina, Tevez e o respeito ao futebol pentacampeão. A cena é conhecida: Tevez com a bola vai pra linha de fundo pra ganhar tempo, prende a bola e põe o pé encima dela; erro grave para o brasileiro, olha que cena de desrespeito!
Tevez por causa da atitude em menos de um minuto tomou umas boas entradas violentas, tanto é que foi substituído pelo técnico argentino para não gerar briga. Eu até entendo a violência desse tipo, acho natural pra quem está perdendo se irritar quando entra na roda e começa a tomar olé.
O que eu não aceito é a reação da imprensa e dos jogadores dizendo que aquilo é falta de respeito com o futebol brasileiro, o pentacampeão. Galvão brada contra os conhecidos catimbeiros, “isso é um desrespeito”, e os jogadores no final do jogo reclamam, “bla bla bla”.
Vá lá que ninguém presta muita atenção para o que os jogadores falam, no fundo voz de papagaio que repete a voz da imprensa, do senso-comum e deles próprios (haja pleonasmo e preconceito!). Mas foda mesmo é ouvir até o nosso técnico, tão inteligente e razoável, levar a conversa adiante.
Por deus, vocês que acreditam, me respondam o que era aquele Denílson que entrava no final do jogo para prender a bola nas laterais e no fundo do campo para mostrar a magia e o gingado do futebol brasileiro? “Pra cima deles Denílson!”, bradava o outro, “esse é o futebol brasileiro!”.
É isso desrespeito? Se for o Brasil já deveria ter sido preso por tanta injúria desde há muito tempo. Afinal nós somos campeões em dribles, toque de bola, rodas de bobo, não é assim mesmo? Mas é que nos acostumamos a ver o Garrincha e seus “Joãos” como arte, e a Tevez não.
Esse é apenas um caso dos que aparecem em todo jogo no futebol brasileiro e marroquino e inglês. O futebol brasileiro é igual grosso modo ao futebol do resto do mundo. Os xingamentos e humilhações são os mesmos. Diferente é o futebol que os brasileiros querem acreditar que têm.
O mundinho particular do futebol dos brasileiros é um mundinho que se estende e é extensão dos outros mundinhos que se proliferam pelo país. Temos mania de vítimas e de reclamação e gritamos tanto que não ouvimos quanto nossa própria voz é egocêntrica e preconceituosa e maniqueísta.
Do ignorante
Márcio
sexta-feira, maio 06, 2005
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