20:40h - Chego à bilheteria do Cine Barra 2 e peço uma meia entrada. A moça do guichê percebe que, como estou sozinho no cinema, sou um derrotado sem amigos, namorada ou família e me oferece dois, ao invés de um que a promoção anuncia, sacos de pipoca. Recuso a oferta e digo que estou ali por obrigação profissional, mas ela sabe reconhecer e tratar um fracassado: "eu também me sinto muito carente no sábado à noite. Já assisti "O espanta tubarões" oito vezes".
20:45h - À minha frente, já na sala de exibição, casais adolescentes comem pipoca e trocam carícias perturbando o silêncio e o clima de ansiedade que precede os filmes de terror. Em outra fileira, quatro teens, uma delas com um belo ventre, vêem a minha barba, se entreolham e sorriem como se cochichassem em voz alta: "este doido vai encarnar o satanás e matar todo mundo". Todos no cinema percebem, fico constrangido, com raiva, e começo a suar mais que o normal.
20:50h - Começa o filme "Exorcista - o início", mas os estalos e sussurros da platéia não cessam. A cada cena mais forte, vários gritinhos são ouvidos, uns de exagerado medo infantil, outros de oportunista prazer juvenil. Penso em tudo que vivi e nem um minuto se passa. Fico triste. A obra deixa a desejar, principalmente se comparada ao original, mas o pior é o comentário de um magricela de óculos e aparelho nos dentes que insiste em falar comigo: "pô, esse filme é muito mentiroso". Vou embora debaixo de chuva às 23:15h e esboço um sorriso ao lembrar que tem gente muito pior do que eu. Não os iraquianos, mas dois guerreiros que foram a Simões Filho em busca de sexo e voltaram sem "exorcizar" o sêmen acumulado. Eu, pelo menos, não tinha expectativas.
Amoêdo, pedindo desculpas pelo tamanho do texto.
segunda-feira, novembro 08, 2004
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