Em resumo: gostei porque considero que Lula perdeu; não gostei porque não me agrada o tom agressivo. Mesmo que a escolha de um vencedor possa sugerir as afinidades eleitorais da sociedade, ficou evidente que o destaque do debate foi Alckmin. A atração (e a surpresa) foi o seu tom, e o resultado foi a evidência de um Lula acuado, irritado e que logo depois assumiu: “me preparei mal”.
A questão que se pode levantar é se o tom de Alckmin não poderia tê-lo prejudicado. Acho que não. Não acho que haja mudança de opinião após esse debate, acho que apenas o da Globo pode influenciar no eleitorado – já que é o de maior audiência e é o que será realizado às vésperas das eleições. O máximo que esse debate pode provocar é o acirramento do confronto: isso já víamos antes do debate.
As reações dos petistas e do próprio Lula mostram o tom de quem foi despreparado para o debate e ficou irritado e sem palavras para se explicar. Lula preferiria ficar no mundo da propaganda eleitoral, no “faz de conta” que o Brasil é maravilhoso, e fazer terrorismo (sem objeções) dizendo que o adversário acabará com o Bolsa Família e privatizará a Petrobrás – coisa que nenhum governo faria.
Mas, uma coisa é certa: Alckmin sabia que teria que jogar tudo nesse primeiro debate. Lula e o PT (e boa parta da imprensa e dos eleitores petistas) achavam que o presidente tiraria de letra o debate e desancaria Alckmin. O PT e Lula passaram a semana ameaçando os adversários dizendo-se dispostos a discutir ética, que falariam do governo FHC, e que tomariam a iniciativa, partindo para o ataque.
Dessa maneira, Alckmin sabia que o primeiro debate seria o marco que o poria de fato na briga pela presidência. Durante o primeiro turno não houve confronto direto. Lula ignorou o adversário e agora achava que teria uma volta triunfal em debates e liquidaria a eleição nos estúdios da Band. Não deu. A partir de domingo o presidente viu que disputa a eleição com um oponente e terá que ser candidato.
Para além disso, acho bom pontuar uma questão. Não considero os debates ocasiões para discutir programa de governo. As regras tornam essa discussão inviável. Além disso, levando em consideração as proximidades dos projetos de governo de ambos (nem Lula promoveu uma ruptura no projeto de FHC, nem Alckmin promoverá no de Lula), o que está em discussão no debate são estilos de governo.
Para quem quer discussão mais aprofundada, eu sugiro que leiam as sabatinas que os grandes jornais fizeram com os candidatos (Lula não participou de nenhuma) e vejam o Roda Viva com os presidenciáveis. A imprensa frequentemente reclama que há falta de debate em torno de propostas de governo, no entanto, é justamente ela a que mais se esmera em propagar as rinhas eleitorais.
Sobre as perguntas que os jornalistas fizeram aos candidatos, acho que foi pior para Lula, mas não vejo nada tendencioso. Um fez uma pergunta a Alckmin sobre maioridade penal e outro a Lula sobre princípios da sociedade. Betting perguntou sobre corte de gastos ao tucano. Franklin Martins (notável defensor do presidente) fez uma pergunta dura à Lula, mas ainda assim pertinente, que é seu dever.
Bom, é isso. Não vou recomendar nenhum outro texto, existem muitos a serem lidos. Ao contrário do chororó do petismo contra a imprensa, não acho o jornalismo tendencioso. Acho, sim, é que o PT sabe pautar a imprensa (melhor do que os tucanos), e para isso basta ver de quem são as falas que dominam o jornalismo digital: o PT sempre foi mestre na frase de efeito e nos estereótipos – melhor para eles.
Márcio
terça-feira, outubro 10, 2006
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6 comentários:
Márcio, pelo visto, concordamos em quase tudo sobre os efeitos do debate.
Mas, uma coisa eu não posso deixar passar em branco. As perguntas a Lula foram:
1)Se vc nào sabia do mensalào, nào sabia dos sangue-sugas, nào sabia... como pode estar preparado pra governar?
2) Em meio a tantas denúncias de corrupçào, envolvendo ministros, etc, qe exemplo está sendo dado para os jovens?
Foram, claramente, dois ataques.
As perguntas feitas para Alckmin foram:
1) Vc é a favor da reduçào da maioridade penal?
2) Aonde vc reduziria os gastos?
Foram perguntas programáticas.
Lula precisou se defender, Alckmin não. Pode até ter sido uma coincidência. Talvez os dois jornalistas sorteados para perguntar pra Lula também tivessem preparado ataques a Alckmin. Mas, as perguntas foram claramente favoráveis a Alckmin.
Rafson
Não, concordamos também nisso. Acho que as perguntas que foram feitas à Alckmin foram mais fáceis. Mas acho que aí foi um mole individual dos jornalistas, não uma tentativa de favorecer.
Tomemos o caso de Franklin Martins. Nos últimos tempos ele teve sua proximidade com o poder revelada. Seu governismo, revelado. Não vejo problema em jornalista ter lado, não pode é comprometer a veracidade dos fatos com particularismos. Franklin tem privilégios no planalto - tanto é que foi o único que conseguiu uma entrevista exclusiva com Lula, mês passado - mas esses privilégios não o impediram de ter feito uma pergunta pertinente. Ponto pra ele.
Agora, concordo com você que as perguntas para Alckmin foram moleza. O que se questionava antes do debate era qual o tom que o jornalismo da Band (que dizem ser pró-Lula) se dirigiria ao tucano. Talvez pegaram leve para refutar a fama pró-Lula, não sei.
No fim, acho que temos duas coisas: quem ganhou o debate, e quem ganhou o quê com o debate.
Acho que Alckmin ganhou o debate. E também ganhou com ele. Não votos. Ele ganhou moral. Mostrou que não vai ser chuchu, mostrou que não será fácil pra Lula vencer e que vai pra briga. Ele inflou o espírito dos aliados e desestabilizou o adversário, que agora terá que sair do pedestal.
Lula perdeu o debate, mas com ele saiu com a medida do que será o segundo turno. O debate também serviu para Lula saber que terá que ser candidato e não presidente. E perder o debate talvez tenha sido bom pra sua campanha pra acender a militância petista.
Vamos ver.
M.
Lula foi muito mal no debate. Concordo que ele tenha perdido. Mas, pior ainda que ele, foi o comentário de Marta Suplicy ao final do debate. A mais nova coordenadora da campanha de Lula falou como se estivesse na cozinha de sua casa (ela deve ver São Paulo desse jeito mesmo).
ehehehe
Cross
Eu não sei Marcinho, me preocupa essa coisa de tirar um vencedor do debate. Aliás, parece uma luta de boxe, que pouquíssimos assistiram, sem nocaute, vencida por pontos, onde os juízes estão espalhados por todo o país, sem terem sido indicados ou escolhidos previamente. E que pouco interfere na disputa pelo cinturão.
Acho melhor dizer, como vc fez, quem ganhou o quê com o debate. Concordo que Alckmin tenha mostrado que vai brigar, que não é um chuchu. Acho que Lula ganhou ao diminuir um pouco essa imagem de super gestor que Geraldo pretende mostrar.
Quanto às perguntas dos jornalistas, que não comentei no texto, mais uma vez concordo com vc. Não quero entender q houve um ataque planejado à Lula da parte dos jornalistas. Mas as perguntas dirigidas a Geraldo foram mais fáceis, sim.
O cara que perguntou sobre o "Champinha" (sei lá o nome) é péssimo. Assisto o Primeiro Jornal que ele apresenta pela manhã, não gosto do trabalho dele. No debate anterior a pergunta que fez tb foi das mais "moles", digamos assim.
Concordo que debate não dá pra discutir programa de governo, mas quem disse que isso aconteceu foi a própria Band.
Willow
Minha opinião.
Sobre as perguntas, convenhamos, Lula tinha mais questões escabrosas a responder do que Alckmim. Era uma oportunidade rara que os jornalistas tinham de tentar esclarecer uma série de fatos mal-explicados, seja por inoperância do presidente na propalada, no entanto, pouco funcional "punição dos companheiros", seja porque Lula, o presidente, não é fã de entrevistas coletivas e esclarecimentos à imprensa. Portanto, acho que os jornalistas cumpriram bem o papel deles com relação a Lula, mas que cabiam umas perguntinhas sobre as CPIs, Nossa Caixa e vestidos para o ex-chuchu, cabiam;
Não achei que Lula foi tão mal assim.Estava nevorso, trocou números, errou alguns dados, mas não o achei inseguro e, em certa medida, devolveu bem os ataques de Alckmin. Estava sim, surpreso e daí o nervosismo inicial (o cara nem deu boa noite após a primeira participação de ex-chuchu). Acho que fica a sensação de derrota no debate justamente pela postura que o adversário assumiu e que surpreendeu a todos, até mesmo correligionários;
Eu fui um dos que achavam que Lula ia massacrar Alckmin nos debates e tive que engolir chuchu a seco e com casca. Apesar disso não ter acontecido, concordo com Márcio, quando ele diz que o embate serev para tirar Lula do pedestal, faz com que ele vista a camisa de candidato e parta para o corpo-a-corpo para ganhar votos. Como defensor da campanha do petista, adorei, principalmente, esse efeito do debate.
Ah, Willow, não é par te pirraçar, mas eu queria dizer que adoro o cara que apresenta o jornal da manhã da Band, apesar de não saber o nome dele. Gosto do sarcarmo e bom humor dele quando tá apresentando, sem falar que ele é 5 milhões de vezes melhor que o antecessor, Tavinho Seschi.
Bora Lula!
Dadá
Colé Darino, claro que vc tem o direito de gostar do cara. Eu prefiro a parceira de programa dele, não faz comentários demais e ainda é uma gata.
Agora nos dois debates, esse cara fez duas perguntas que poderiam ser facilmente substituídas.
E como tou bonzinho, concordo tb com a suas opiniões no post acima.
Willow
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