quarta-feira, outubro 04, 2006

'VOU APRENDER, MAS NÃO VOU ME SUJAR POR POUCO', DIZ CLODOVIL

03/10/2006 - 00h51m - Atualizado em 03/10/2006 - 08h03m

O deputado federal eleito afirmou que vai aprender com os colegas de Congresso, mas sem ser "convencido a roubar"
Roney Domingos, do G1, em São Paulo

Clodovil quer mudar Brasília

Clodovil Hernandes foi o terceiro candidato a deputado federal mais votado no estado de São Paulo. Durante a campanha, o autodenominado "costureiro" e apresentador de televisão prometeu "que Brasília nunca mais seria a mesma". O lema e a fama renderam 493 mil votos.
O deputado eleito pelo PTC sabe que vai sofrer para se adaptar à cidade que pretende virar de pé à cabeça, principalmente pelo preconceito contra homossexuais, mas avisa desde já: "se o Collor tinha aquilo roxo, o meu é cor-de-rosa choque."

Em entrevista ao G1, Clodovil disse que não precisa desenhar nenhuma roupa especial para o dia da posse. Tem um closet cheio de ternos novos, que o repórter conheceu. Sozinho. Do lado de fora do armário, o deputado federal eleito por São Paulo falou principalmente sobre sua nova atividade, a política.

O homem que, como candidato, prometeu renovar admite, agora como deputado eleito: aceitaria dinheiro para votar a favor do governo; só depende da quantia. Questionado sobre o mensalão, reconhece: "R$ 30 mil é tão pouco... Se ainda fossem uns US$ 30 milhões... Por R$ 30 mil vender um país, você está louco. Cada um pesa o dinheiro na sua balança. E a minha precisa de muito", diz.
Confira a entrevista:

G1 - Daquela arara que nós vimos, o senhor vai escolher qualquer roupa para o dia da posse?
Clodovil - Qualquer uma. Tudo apodrece. O bicho come.

G1 - Como é que o senhor vê esse fato novo em sua vida? Adotou uma postura filosófica?
Clodovil - Não tenho expectativa nenhuma. Posso morrer amanhã. E depois, quem garante que não vão querer tomar o meu mandato?

G1 - O senhor considera a política, uma atividade da qual muita gente desconfia, um bom caminho para fazer o bem?
Clodovil - Vou começar assim: não posso assinar coisas concordando ou discordando sem ter consciência. Se eu chego lá metido a qualquer coisa, vou subir dez metros e me quebrar aqui embaixo. Não sou obrigado a saber tudo. E nem gostaria de saber.

G1 - Então o senhor quer aprender como agir no Congresso?
Clodovil - Antes de mais nada, vou analisar. Porque você veja. Ele [aponta para um assessor] trabalha aqui e ganha um salário. Mas ele me trata como se eu fosse um imbecil. Foi paga a conta do partido, mas foram lá e cortaram a luz hoje. Ele não resolveu nada. Não tem respeito pelo que faço por ele. O emprego no Brasil é uma porcaria porque todo mundo quer direitos. Deveres ninguém quer.

G1 - O senhor define-se com uma pessoa conservadora, liberal...
Clodovil - Se eu vou ser deputado federal e não tenho escola nenhuma, vou ter de fazer uma escola. Minha escola é honesta. Não tenho intenção de passar de ano na vigarice. Quando estiver lá vão fazer o possível para me tirar, porque não vão me convencer a roubar.

G1 - Se recebesse uma proposta de mensalão, para receber R$ 30 mil por mês para votar a favor do governo, o que diria?
Clodovil - R$ 30 mil é tão pouco... Se ainda fossem uns US$ 30 milhões. Por R$ 30 mil vender um país, você está louco. Cada um pesa o dinheiro na sua balança. E a minha precisa de muito dinheiro.

G1 - Então não é uma questão de honestidade, mas do tamanho da cifra?
Clodovil - Mas isso é qualquer ser humano. Não vou me sujar por pouco. Vou me sujar por alguns milhões de dólares, é claro. Pego esses milhões de dólares e faço a benemerência que eu quiser. E dane-se a retranca. Não tenho filho, não tenho amante, não tenho mulher, não tenho nada. Isso não é desonestidade. Isso é oportunidade. Agora, vender um país por 30 paus é demais para a minha cabeça.

G1 - Isso seria considerado ilegal. Receber dinheiro público para votar com o governo, por exemplo, seria considerado corrupção...
Clodovil - Claro que eu sei. Não sou analfabeto. Você acha que eu vou chegar lá e encontrar São Francisco de Assis? Mude primeiro de mentalidade. Quem está lá é brasileiro como você. Não são gregos e troianos.

G1 - De que forma viria a mudança? O Sr. se propõe a chegar lá e aprender com os colegas...
Clodovil - Colega não, porque quem tem colega está preso.

G1 - O senhor gosta de Brasília?
Clodovil - Fui a Brasilia várias vezes. É uma cidade diferente. Lá não tem esquina.

G1 - O que pensou quando disse que Brasilia não será a mesma a partir de sua eleição?
Clodovil - É um slogan inventado, um slogan mágico, essas coisas que me elegeram. Eles confundem seriedade com terno de tergal e voz empostada. Não é nada disso. Seriedade é outra coisa. Essa frase é para os inimigos curtirem. Eles falam: "esse gay vai para lá, esse velho."

G1 - Como o senhor reage a ataques assim?
Clodovil - Reagia mal.

G1 - Agora não liga mais?
Clodovil - Ligo muito. Sei que vou sofrer. Se o Collor tinha aquilo roxo, o meu é cor-de-rosa choque. O vencedor nessa campanha não foi o Maluf, nem o Russomano. Fui eu.
#
http://g1.globo.com/Noticias/Eleicoes/0,,AA1295842-6282,00.html

Nenhum comentário: