Em tempos bem remotos, dois indivíduos, eu e ela, andávamos, distraidamente, conversando banalidades pela faculdade. De longe, via-se uma menina entregando uns panfletos, que, pelo que vimos num cartaz colado na entrada do prédio, eram de um tal movimento que pregava a abstinência sexual antes do casamento.
Chegando perto da tal menina, que já nos estendia um de seus panfletos, ouço a voz:
- Ahh, não me vem com isso, não, acho uma idiotice! - Disse a pessoa ao meu lado, com uma voz desdenhosa, ácida e cortante, diante de uma figura com a mão estendida, com o tal panfleto entre os dedos, frustrada, atônita e com cara de interrogação.
Eu estava perplexo com a cena, de certa forma indignado, porém meditativo. Não entendia como uma pessoa tão baixinha conseguia ser tão altiva e, para mim, naquele clarão de momento, tão burlona e pérfida. Investi então contra ela.
- Você foi grossa com a menina.
- Eu não gosto desse povo que quer vir nos catequizar, nós promíscuos e desmor...
- Você não foi grossa, você foi estúpida!
- Ahh, marcinho, não consigo aceitar essa galera catól...
Naquele instante já estava à caminho de onde estava a tal menina com seus panfletos. Lá estava ela, serena e resoluta, entregando pacificamente seu apelo ao apoio da castidade juvenil, quando fui lhe falar.
- Olha, desculpa a nossa indelicadeza - Disse eu, em voz baixa, tímido e sem graça, com um leve tom hesitante. Prossegui, porém, tentando remediar. - Nós, é bem verdade, não concordamos com você, achamos inclusive um perda de tempo, idiota, até, e te desprezamos intensamente por isso; mas não queremos, de maneira alguma, te agredir ou te menosprezar com as nossas palavras, tá? Desculpa.
Como é bom ser sensível e tratar bem as pessoas... Fiz minha boa ação do dia, é um alívio, sinto-me, enfim, realizado... Acho que voltei para casa naquele dia e ouvi sem parar os discos do Los Hermanos...
Para Alexandre
Márcio
quinta-feira, outubro 28, 2004
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3 comentários:
Por que "para Alexandre"? A gente também quer dedicatória! Isso aí foi hoje? Eu defendo a católica: sexo só depois do casamento.
Paulinha de novo. Será que algum dia eu vou lembrar de assinar esse troço?
Oi, Paulinha. Faz algum tempo esse acontecido, e não é tão real assim, apenas uma parte. Depois te conto. Ahh, eu dediquei o texto a Alexandre porque tem sido meu passatempo implicar ele. Depois te dedico alguma coisa, com certeza será algo melhor. Pode deixar.
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