domingo, julho 18, 2010

À altura do homenageado?


Esta é a capa da Playboy portuguesa. Traz um ensaio com mulheres nuas e imagens de Jesus ao redor delas. Trata-se de uma tentativa de homenagem a José Saramago, um provocador um tanto infantil da Igreja.
O que acharam da iniciativa? Dá pra polemizar, ou não há mais graça alguma em tentar chocar os cristãos? Eu achei tão infantil quanto Saramago... mas...
Difícil é brincar com Maomé, né não? Quero ver se a Playboy tem peitos pra isso?!
Márcio

3 comentários:

Manelé na Tela disse...

Acho que Saramago não aprovaria. E Jesus, acredito eu, daria um sorriso maroto ao se ver retratado assim, sem dar nem um beijinho nas peladonas.

Amoêdo, que ainda não terminou "Jangada de Pedra" e admira Saramago mais de ouvir falar do que de ler.

Manelé na Tela disse...

Eu acho que a provocação maior foi sua, Marcinho.

Não há nada de infantil nas críticas de Saramago à Igreja Católica. Tanto não é que a mesma pressionou o governo português pra boicotá-lo em um prêmio. Por causa disso, Saramago foi viver na espanha.

Do mesmo modo que virou cult ler Saramago, virou uma espécie de contra-cult, criticar os livres pelo posicionamento de esquerda do escritor. Coisa bem dos discípulos de Veja.

Faço questão que vc aponte a infantilidade presente em O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Memorial do Convento e Caim. Só pra citar alguns.

Willow

Manelé na Tela disse...

Não li nem "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" nem "Caim", mas considero "Memorial do Convento", junto com "História do Cerco a Lisboa" e "O Ano da Morte de Ricardo Reis", os melhores livros dele. Até achei divertido "O Homem Duplicado", mas nada além de divertido, nada demais, e gostaria de ler um penúltimo livro dele, sobre a viagem do elefante, que foi recomendado por um crítico de quem gosto bastante.

Agora, minhas reservas a Saramago não são apenas de ordem política (a essas eu nem me referi, mas poderia fazê-lo), são também de ordem literária mesmo. Não gosto de livros de "teses", em que você a todo momento saca que o autor quer provar algo. A literatura aí parece mero pretexto. Saramago assim me pareceu na maior parte dos livros dele. E quando isso acontece, quando sua narrativa vive em função de uma tese, uma teoria, uma moral, ou algum posicionamento político, essa tese deve ser discutida. Por isso me desagradou "O Ensaio sobre a Cegueira", "O Ensaio sobre a Lucidez", "As Intermitências da Morte" e principalmente "A Caverna". Todos, alegoricamente exagerados, resumíveis a frases de efeito. Sobre isso, ademais, ele exagera sempre (você deve contar 20 aforismos por página) e as falas de seus personagens, como não podia deixar de ser, vivem em função delas.

No mais, considero infantil escrever para chocar espíritos mais carolas, como quem grita "abaixo o sistema". Eu escrevia "deus" com letra minúscula quando era moleque e, convenhamos, chamar Deus de filha da puta me lembra a época de "agressivos/ agressão/ é a imagem do cão".

Agora, não ache que não gostar de Saramago, ou lhe criticar seus livros ou mesmo seu esquerdismo seja coisa de "discípulos da Veja". Não sei se já existe essa seita, mas acho cada um desses pontos perfeitamente criticáveis: Saramago era chato, os melhores livros dele são os primeiros e ele jamais foi um democrata.

E, ah!, ter ido morar na Espanha por causa da pressão da Igreja sobre o governo Português, convenhamos, é um pity meio infantil, né não?

Márcio

PS: Quer dizer que é maior provocação achar Saramago infantil do que fotografar Jesus com mulheres nuas na Playboy? Aí também não, né? ehehe.