07 de outubro de 2007, na arquibancada do estádio Otávio Mangabeira, a Fonte Nova.
E tudo, como, infelizmente já nos acostumamos, parecia que ia dar errado.
E como também já é tradição, tudo dando certo onde tinha que dar, lá no Acre, e nós aqui sem fazermos nossa parte. Ou seja, tudo nos conformes do medíocre, irritante e interminável script maldito e recente do drama chamado Esporte Clube Bahia.
Se bem que eu me perguntava: se era pra dar errado mesmo e nos fuderíamos de novo, por que desgraça Testinha perdeu o pênalti diante do ABC lá na Floresta, com quatro minutos de jogo? O primeiro sinal.
E a esperança continua.
E lá, o Rio Branco metia bola na trave. E o goleiro do ABC fazia miséria. E eu falando com Marcus Pimenta (no Acre) pelo tel e ele me dizendo que o gol do Rio Branco era questão de tempo.
E aqui, o Bahia não jogava nada. E o Fast fazia o que queria.E a angústia cresce.E o Bahia não se motivava. E o Bahia não se mexia. E o Fast atacava e perdia gol atrás de gol. Puta que pariu, que agonia!
E os traumas foram se fazendo mais vivos na memória. E o suor descia. E o cu diminuia. E nem azeite passava. E as lembranças não deixavam eu me enganar. E as sucessivas quedas atormentavam. Os "setes" reapareciam. O fantasma do dragão amarelo assombrava novamente. E a praia era avistada, mas o fôlego diminuía.
E o corpo tremia. A boca secava. E eu não conseguia mais sentar. E nem ficar parado. E o rádio caiu e quebrou. E o tempo passava. E o gol não vinha. E a garganta doía. E o desespero já me chamava de "meu broder".
E, de repente, ao lado de mais 8 mil pessoas, eu só conseguia ouvir meu coração.
E a lamúria começou. E as lágrimas temiam em descer. E a revolta se instalou. E meus queridos e estimados palavrões entraram em cena e ganharam o ar. E a vontade de matar meio mundo de gente voltava. E que saudade do bom e velho Bahia...
Mas o jogo do ABC acabou. Empate. Nossa galera foi ao delírio. E eu não entedia por quê. Porra, e cadê o nosso gol?!
E o juiz nos ajudava. E botou dois do Fast pra fora.
Mas Artuzinho empenava o nosso baba. Tirou Nonato. Mas botou o 16, Inho. Mesmo número de Raudinei. Outro sinal. E botou Charles também. Mas botou Amauri. Vai ser foda! E fomos pra cima.
Mas o desgraçado do goleiro do Fast pegava tudo.E no desespero, atacante do Fast sozinho na cara de Márcio. Ele cai na área, pênalti. Mas o juiz é Bahia! Outro sinal. E o cara do Fast recebe a bola sozinho na área. E manda por cima do gol.E a esperança não morria.
Haaaaaaja teimosia!
Mas o tempo não parava. A angústia não passava. Mas não era possível. Valei-me nosso senhor Jesus Cristo, tinha que dar Bahia!
E Carlos Alberto recebeu na direita. E avançou. E cruzou pro meio da área.
E antes da bola chegar em Charles, Deus, tão ausente e omisso nesses sofridos últimos tempos, finalmente atendeu nossas lamúrias e preces, e resolveu lembrar que um tal de Bahia e sua legião de sofredores existia.
E aos 50 minutos do segundo tempo, muito mais do que os seis dias que Ele levou pra fazer a Terra (só quem tava na Fonte sabe disso), Jesus Charles, o enviado de Deus, o nosso "Messias Salvador", empurrou pro fundo do gol vazio... e fez o Bahia voltar a ser "o Bahia"!
E a massa gritou, cantou, chorou, vibrou, se descontrolou, desmaiou e se emocionou como há muito tempo não fazia.
E os milhões de corações tricolores, graças ao meu bom Deus, enfim, voltaram a saborear, a viver e a sentir o lado bom de ser Bahêa.
Obrigado Senhor, por lembrar de nós.
Pouco importa se era o Fast. Se era a Série C. A gente, tão acostumado, mas ultimamente tão carente, só queria mesmo um motivo pra voltar a fazer festa.
A sofrida, descrente, humilhada, mas sempre fiel e apaixonada Nação Triclolor, agradece.
Louvado seja o ABC.
Mais Bahia que do nunca,
Darino Sena
PS1: "ê.... eu vou pra Série B..."
PS2: "ô.... me esperaê negô...."
PS3: "ê, Vitória, vá tomar no cú!"
PS4: "Bahia, Bahia minha vida.. Bahia, meu orgulho.. Bahia meu amor... "
PS5: "roubar é humano"
PS6: "timinho, fuleiro, nunca foi campeão brasileiro!"
segunda-feira, outubro 08, 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Dadá, ainda vimos vc na TV junto a um dos astros do vídeo Fanáticos e da reportagem de Mateus Carvalho no Globo Esporte.
Bora baêa minha porra!
Eu não acreditava, Dadá acredita, André (irmão de Clara) acreditava. Oito mil torcedores acreditaram.
Como é bom estar errado!
Willow
PS: realmente o pênalti não marcado e o acréscimo no segundo tempo foram estranhos, mas e daí, já era!
Rapaz, o Bahia deve ter comprado o juiz e alguns jogadores do Fast... mas vei, nesses últimos anos a gente já foi tão roubado, que o roubo a nosso favor já tá valendo... é um crime que prescreveu na constituição... bora Bahêa!!!!
DS
Darino, aí vai a minha descrição do jogo, que enviei para um amigo tricolor, agora morador de São Paulo.
"Como você sabe, o grupo do Bahia nessa fase tinha 4 equipes. Das quatro só duas se classificariam para a fase final. Devido a incompetência ou ao azar ou às duas coisas juntas, o nosso tricolor chegou em uma péssima situação à última rodada.
O ABC de Natal já estava classificado e jogaria contra o Rio Branco do Acre, lá no Acre. O Bahia enfrentaria o Fast de Amazonas, que já estava eliminado, na Fonte Nova. Provavelmente, ganharia, porém, precisaria torcer para o Rio Branco não vencer o ABC. O problema é que o Rio Branco tinha vencido todos os jogos em casa e o ABC, sem disputar mais nada, jogaria com o time reserva.
Pra mim, o Bahia já estava eliminado e a torcida revoltada ia querer quebrar tudo, na Fonte Nova. Eu é que não iria pra lá! Mas, quem disse que a gente controla nossa vida, né?
Léo, o irmão caçula de Valéria, é um dos torcedores do Bahia mais fanáticos que eu conheço. Disse em casa que ia de qualquer jeito. Minha sogra, Dona Tânia, então, resolveu que ia também. Como toda mãe, ela achava que a pessoa mais indicada para proteger o filhinho de 17 anos de um possível tumulto generalizado seria ela, uma valente e poderosa senhora de cinquenta anos, praticamente uma capitã do BOPE!
Valéria se revoltou e disse que eles não deviam ir. Mas, o menino bateu o pé. Então, ela achou uma brilhante solução. "Mãe, a senhora não vai. Eu levo Léo." Agora sim, ele estaria protegido!! Era uma indestrutível mulher de mais ou menos 60 Kg de pura força, profunda conhecedora da Fonte Nova, afinal, já tinha ido lá uma vez. Ela faria a segurança do pobre rapaz. Ninguém tocaria nele!!!
Foi a minha vez de intervir, com toda minha autoridade.
-Valéria, você não vai!
-Vou, sim!
-NÃO VAI!!!!
-Vou, sim!
-VALÉRIA, ISSO NÃO ESTÁ EM DISCUSSÃO!!!! VOCÊ NÃO VAI E PRONTO!!!
Cheguei na Fonte Nova, com Valéria e Léo, meia hora antes do jogo começar. Maldito movimento feminista! Se não pode vencê-los, junte-se a eles, né? Agora sim, eles estariam protegidos. Eu estava lá!!
Pelo menos, vimos o jogo na arquibancada especial, um lugar bem mais tranquilo. Estava tudo tenso. Todo mundo preocupado com o Bahia. Valéria estava puta da vida com o nervosismo do irmão. Eu pedi pra ela ter paciência, mas, ela tentou contestar que era um absurdo tanta agonia por um jogo. Eu respondi: " Val, o que está acontecendo hoje é a morte do Bahia. O time que seu irmão ama está acabando." Ela compreendeu. Acho até que ficou triste também.
Pra mim, o Bahia estava eliminado. Eu não tinha esperanças e estava tranquilo lá, vendo o jogo, comendo biscoitos e chocolates de mãos dadas com Valéria. Ela também estava tranquila, pois achava que aquilo era apenas um jogo. Mas, nós erámos uma ilha na fonte Nova. As outras 8 mil pessoas presentes, eram torcedores fanáticos. Sabiam ser difícil, mas, tinham uma ponta de esperança e também tinham ciência do que eu disse a Valéria. Havia 99% de chances de assinarem o atestado de óbito de um clube que já foi campeão brasileiro, mas eles se agarravam, com todas as forças no 1% restante.
A cada minuto de jogo, os torcedores ficavam mais nervosos. Fora eu e Valéria, ninguúem conseguia ficar sentado. Mais que isso, as pessoas andavam pra lá e pra cá, como se fossem antenas de TV, procurando o ponto com melhor sintonia, para ajudar o time. E o time estava mal. Os jogadores estavam morrendo de medo e isso era visível. Eles sabiam que carregavam 76 anos de história nas costas e que seria difícil segurar a revolta da torcida, caso falhassem. No fim do primeiro tempo, com zero a zero, houve uma vaia imensa.
Começou o segundo tempo e o Bahia atacava com tudo, mas, nada de fazer gol. E o mais incrível, o jogo do Acre também estava empatado. Isso significa que caso o Bahia vencesse estaria classificado e, mais do que isso, estaria vivo. A tensão aumentava e contagiava. Quando percebi, eu também estava em pé, gritando. Pior, Valéria estava do mesmo jeito! Era uma mistura de esperança na ressurreição do meu time e medo da reação da torcida, caso o Bahia fosse eliminado porque não conseguiu vencer o lanterna do grupo em casa.
Cada minuto que passava, mais e mais agonia. O Bahia tinha desistido de defender. O esquema, no fim do jogo era 0-0-10, ou seja nenhum zagueiro, nenhum meio campo e dez atacantes. Todo mundo no campo de ataque. O risco era imenso. Cada bola perdida era uma investida de 3 ou 4 jogadores do Fast contra apenas um ou até nenhum do Bahia em. Em pelo menos 3 oportunidades, o Bahia não levou o gol por milagre e porque os adversários eram muito ruins.
E o tempo não parava de passar. Todo mundo desesperado. Léo chorava. Uma multidão chorava. Era o fim e o fim mais melancólico possível. O jogo do Acre havia terminado com um inesperado resultado favorável e o Bahia não conseguia fazer a parte dele.
Quando de repente, já nos acréscimos, o cachaceiro discarado do Carlos Alberto, odiado ela torcida devido ao seu currículo de indisciplina, avançou pela direita e cruzou rasteiro.A bola atravessou a área, na direção de Charles, um atacante que tinha entrado no segundo tempo. Eu só ouvia o grito de Valéria, que nem ligava pra essas coisas:
" Vai!Vai! Vai! Goooooooooooooooooo oooooooooooooooo oooooooooooool! "
Nunca vi uma comemoração dessas! Ninguém se contentava em gritar gol e abraçar os amigos. As pessoas corriam pela arquibancada, se jogavam no chão. Vários que estavam lá no lado esquerdo iam até o lado direito abraçando todo mundo. Léo gritava "eu amo vocês" para todos os torcedores. Era absolutamente impressionante a sensação de alívio no rosto de cada um. Até no de Valéria!
Os jogadores que estavam sendo xingados até aquele momento agiam como os torcedores, caiam no chão e corriam para todos os lados também. Quando acabou a partida, se dirigiram aos torcedores para agradecer e eram aplaudidos.
Puta que pariu! Imagine o que aqueles caras estava sentindo. Mais um minuto sem fazer gol e todas aquelas pessoas canalizariam neles todas suas frustrações. Um minuto foi o tempo que separou os atletas do ódio e os levou ao amor. Por um minuto, eles não saíram do campo correndo, com medo de serem agredidos e puderam ficar lá, glorificados como heróis.
É incrível como um jogo aparentemente insignificante pode entrar para a história. Mais incrível ainda é como o futebol pode ser tão importante para tanta gente e como no calor do jogo, isso parece lógico.
Rafson
Postar um comentário