terça-feira, setembro 11, 2007

Muito mais que um jogo (parte 1)

Conversando com o amigo Marcelo Minho no msn agora há pouco tive a infelicidade de lembrar daquele que é, sem exagero, um dos dias mais tristes e marcantes da minha vida, 08 de setembro de 1997, data do primeiro dos três rebaixamentos do Bahia, este, o primeiro da primeira pra segunda. Os outros dois seriam também pra segundona, em 2003, e pra terceirona, em 2005, oportunidades em que tive o desprazer de trabalhar no clube.

Há muito eu não lembrava da fatídica data, que neste 2007 completa 10 anos. Vou relatar minha experiência como um desabafo e pra quem acha que é balela refletir um pouco sobre a magnitude desse esporte chamado futebol.

Ùltima rodada do Brasileirão. Era um sábado de noite. O Bahia ia jogar na Fonte Nova, contra o Juventude, que lutava pela classificação às quartas-de-final. Uma simples vitória nos livrariaa da degola e, consequentemente, e este é só um dado curioso, classificaria o Vitória, nosso maior rival, para o mata-mata decisivo. Eu tava tão preocupado com a situação do Tricolor que nem lembrava que nosso sucesso significaria o avanço do rival. Queria mais era me livrar.

Namorava com Clara na época. Saí de casa às 18h. Foi a primeira e única vez que fui pra arquibancada da Fonte Nova de calça jeans. Motivo? Tinha um show do Cheiro de Amor depois do jogo e eu tinha combinado com Clara de ir ver. Eu tava tão confiante que achava que aquele seria o palco ideal pra comemoração do alívio. Eu tinha 16 anos.

Bom, o jogo foi uma desgraça. Perdemos infinitos gols e acabamos degolados. Eu saí da Fonte Nova atônito. Marcelo me contou que teve febre emocional. Eu fiquei surdo. Sério. Tinha ido sozinho pro estádio. Saí mudo, sem ouvir, sem ver ninguém... não me lembro de nada... só lembro que não chorei. Clara morava no começo da Centenário, dava pra ir andando da Fonte pra casa dela. Peguei o Dique, não tinha carro.

Depois do apito final, só me vem na lembrança o Dique meio apagado, eu andando ao lado de vários carros... devagar...gente xingando, as pessoas passando apressada e eu andando devagar. Parei um pouco pra tomar ar, olhei pra trás, pra camisa do Bahia e segui adiante. Subi uma ladeira do prédio de Clara, cheguei e ela tava puta me esperando no play porque eu tava atrasado. Não tinha celular na época. Se tinha, eu não tinha. A mãe dela buzinando com pressa pra levar a gente pro Espanhol, pro maldito show. Eu não consegui responder ao chilique. Ela me perguntava as coisas e eu não respondia. Ela achou que era pirraça, eu mudo. Nem dei boa noite pra Chica, minha então sogra.

No caminho, na Centenário, eu não agüentei e não sei bem o que me motivou, comecei a chorar. Pra quê? Foi o fim pra Clara. Ela não agüentou e esbravejou: “mas que porra, como é que pode? Ficar assim por causa de uma merda de time? Por causa de uma derrota. É só futebol, acorda! Você precisa crescer e blá, blá, blá...” Tínhamos 2 anos de namoro. Eu sempre agüentei calado os calundus dela, afinal, eu a amava, tudo era relevável. Mas o menosprezo à minha maior paixão, aí já era demais. Revoltado, me virei pra ela, peguei firme nos braços dela e disparei: “vá se fuder! Não vê que eu tô sofrendo, sua porra egoísta?!”

A mãe dela se assustou, deu meia-volta no carro, pediu calma pra gente. Ela foi sentar na frente do carro e eu continuei no fundo, soluçando. Àquela altura, ela também. Era uma besta. Não, Clara não, o carro, ou melhor, ela era também! Pedi desculpa pra mãe dela. Chica continuou pedindo calma, foi mais compreensiva, me dizia trivialidades como a vida é assim mesmo, amanhã tudo vai ser diferente e coisa e tal, sem ter a mínima idéia que eu estava diante da maior catástrofe que poderia acontecer na minha vida naquele momento.

Aquele dia eu tive a certeza: Clara não era a mulher da minha vida. Foram precisos mais cinco anos de convivência pra confirmar o que a paixão pelo Bahia já tinha me alertado muito antes. Antes tarde do que nunca.

Mas o pior, na minha cabeça, ainda tava por vir: a chegada em casa... (CONTINUA)

DS

5 comentários:

Manelé na Tela disse...

Dadá, esse relato me fez lembrar também de como eu descobri o quanto você é meu amigo. Lembra do dia do atropelo? Você me ligou, desabei, chorei pra caralho, você pegou um táxi e correu pra me encontrar, foi comigo a delegacia, ao IML e ainda bebemos umas cervejinhas em Cira pra esquecer o dia... São pequenos atos que não esquecemos jamais... Sei que Márcio vai me esculaxar, mas eu te amo irmão!
Broa, emocionado.

Manelé na Tela disse...

Vai demorar muito? Esse suspense tá me matando.

Ô Chico véi, vc vai fazer todo mundo chorar.

Willow

Manelé na Tela disse...

Porra, Chiquinho. Eu lembro bem daquele dia também. Eu te liguei no fim da tarde, era uma sexta-feira, o Bahia tava concentrado pra jogar no sábado, e eu queria tomar uma pra relaxar. Te liguei e você tava desesperado, tinha acabado de atropelar a mulé, chorava como a porra.

Eu trabalhava no Bahia e não tinha carro ainda. Seu desespero me preocupou. Eu tava sem um conto pra pegar taxi, mas tinha que ir lá te dar uma força. Pedi emprestado ao tesoureiro do Bahia e me piquei do Fazendão pra Boca do Rio. Graças a Deus deu tudo certo e no final a gente riu pra porra da situação. Mas não foi naquele dia que eu descobri que você era meu amigo. Eu já tinha descoberto isso antes.

A ajuda nas minhas duas mudanças de casa, o ombro amigo quando eu bati na sua casa em prantos, sem rumo, numa das brigas com Tamy, as caronas, além das inúmeras declarações de amor que já recebi de você pessoalmente, já tinham me mostrado isso.

Apesar da recente distância, também te amo pra caralho, minha broinha.

Grato à vida pelos amigos ela me deu,

Dadá Soares
PS: nem aí pras possíveis sacanagens de Márcio e cia.

Manelé na Tela disse...

Willinho,

Terminei a parte 2. Mas não consigo postar aqui do trabalho. É bloqueado. Se alguém tiver a manha, é só dizer. Se não tiver, só vou poder postar de noite, quando eu chegar em casa.

Desculpa,

Beijos,

Dadá Torres

Manelé na Tela disse...

Que clima de despedida é esse? Alguém vai morrer por acaso?!

Márcio