quarta-feira, setembro 19, 2007

Tendências e debates

Para qualificar o debate, segue artigo do Prof. Emiliano José, publicado no jornal A Tarde de ontem, 18 de setembro. O título acima é um plágio de outro jornal, a Folha de São Paulo, mas tem uma razão de aí ser colocado. Lembro que anteriormente, tivemos a voz do Sr. Jarbas Passarinho.

Veias abertas

Quando uma ferida está aberta, ela sangra. E incomoda.

Por isso, talvez, o lançamento do livro Direito à Memória e à Verdade, pela Secretaria Especial de Direitos Humanos do Governo Federal e que contou com a presença do presidente Lula, tenha incomodado tanto. Não há como esconder debaixo do tapete os crimes de uma ditadura.

Quem quer que tenha experimentado o terror de um regime assim, sentido na pele a tortura, enfrentado a dor de saber de um parente torturado, ou morto ou desaparecido, não há de esquecer.

Nem tem por quê.

Como disse o jornalista Álvaro Caldas, ex-preso político, em artigo n'O Estado de S.Paulo de 2 de setembro, essa é uma catarse que o País ainda não teve coragem de fazer, embora ele reconheça que o lançamento de um livro como esse, onde o próprio Estado sepulta as versões mentirosas da repressão, represente um passo adiante. Eu diria que um passo importantíssimo, embora evidentemente ainda não suficiente. Muitos dos que ordenaram a tortura, muitos dos que comandaram assassinatos não estão mais entre os vivos. Mas não há qualquer razão para anistiar pessoas que agiram dessa maneira. "Eu não anistio criminosos", disse Clarice Herzog, viúva de Vladimir Herzog, morto no DOI-Codi, São Paulo, em 1975, ao O Estado de S.Paulo do mesmo 2 de setembro.

O País cultiva uma curiosa tradição de fazer transições políticas por cima, pretendendo sempre que elas se dêem sem rupturas evidentes. Isso no entanto, há que se modificar. Em vários países latino-americanos, e podemos lembrar casos como o da Argentina e do Chile, os responsáveis pelos crimes dos períodos ditatoriais têm sido punidos.

Não há prescrição para tais crimes. Não pode haver. Por que no Brasil deveríamos fazer de conta que tudo se apagou? Por que alisar a ferida? Por que fingir que ela não dói mais? Quando falo, em palestras, o que foi a ditadura, a juventude reage como que perplexa. Não sabe o que ocorreu naqueles tempos de terror - terror oficial, terror do Estado que tem o monopólio da força. Nós não podemos construir uma história de faz-de-conta. À base da lei, o País deve continuar esse movimento pela punição dos que cometeram esses crimes. Para tanto, deve ser ampliada a política de abertura dos arquivos. O nosso ensino de história não pode continuar a omitir esses crimes. Os jovens têm todo o direito de saber o que foram aqueles 21 anos de arbítrio, violência, obscurantismo, tortura, assassinatos.

É preciso exercitar o direito à memória e à verdade.

Continuar o processo de abertura dos arquivos.

A verdade, se dói, é sempre melhor do que a mentira ou a omissão. Ela permitirá à Nação encarar-se a si mesma, olhar seu passado, adotar as medidas necessárias para afirmar suas convicções democráticas, enxergar o novo papel das Forças Armadas. Ao negar-se a isso, estamos no território do faz-de-conta. Como querem as vozes do passado, que volta e meia ressurgem querendo defender o indefensável, uma ditadura que nós não queremos nunca mais.

Emiliano José| Jornalista e escritor. E-mail: emiljose@uol.com.br


Willow, no papel de dar voz às vozes.


P.S.: quem matou Taís, eu não sei, mas já soube que o Otto rodou e a Alessandra tá livre. Preparem os currículos.

Um comentário:

Manelé na Tela disse...

Quem bate quer esquecer, quem apanha não pode.

Amoêdo, adaptando o dito popular.