segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Viadagem politicamente correta

Ainda mais forte este ano é o comentário comum que o carnaval da Bahia é elitista por causa das cordas. Já li isso em vários sites e até em blogs de política que estão dando umas notinhas carnavalescas por falta de assunto. Não há idéia mais batida do que essa.

Em primeiro lugar, se o carnaval de Salvador é hoje o que ele é, com tanto turista e com tanta cobertura nacional, é por causa do sucesso que as bandas de axé conseguiram nos anos noventa. Impulsionados, diga-se, pelos blocos e pela indústria da axé music em geral.

Querer impor limites aos blocos é uma coisa, condená-los como elitistas é hipocrisia. Geralmente quem condena, ou quer, ou preferiria estar em um camarote, ou em alguma sacada, ou em cima do trio, ou até mesmo em um bloco.

Eu sei que a rua é local público e deve ser entregue ao povo. Acho que há de se limitar o tamanho dos blocos e intercala-los com trios sem cordas. Mas isso só por questão de segurança. Por questão de ódio aos blocos, haja paciência!

Não há como não haver divisão numa festa desse tipo. Bloco de carnaval, desde quando eram puxados por bandinhas para crianças e pais, sempre almejaram divisão. O nome propriamente já pressupõe a distinção. Além disso, todas as pessoas procuram formar blocos de um jeito ou de outro.

Além do mais, quem é que está falando isso? Carnaval no Sambódromo não é elitista? Os bailes não são? Não há camarote em Recife? É atrás de frevo que o baiano quer ir atrás sem corda? E quem vai pagar pelo Chicletão sem bloco? Há mesmo dinheiro pra isso? E deve o governo?

Mas, quer saber, e Carlinhos Brown? Ele reclama, mas sua história deve aos blocos também! Não satisfeito, toca sem cordas. Bravo! Até porque se com cordas, quem pagava? Por isso ele não deixou de promover bailes no Museu du Ritmo para a elite do Comércio: ele tem que ganhar uns tostões, ora, povo lá dá dinheiro!

Sejamos justos: o carnaval daqui só se desenvolveu às custas dos blocos. Eles fizeram as bandas, que trouxeram os turistas e os foliões locais também, que trouxeram dinheiro e exigiram segurança e conforto. Disso para o que temos hoje é uma questão de anos.

No mais, é puro preconceito essa de carnaval elitista. Preconceito contra quem ganha dinheiro. Tem bloco pra tudo, pra rico e pra pobre, com as diferenças que lhes cabem. Restrição por ordem de segurança apenas.

E olha que nem de carnaval sou fã.

Márcio

8 comentários:

Manelé na Tela disse...

Outras perguntas:

A lógica serve para o Ilê?

E com os Filhos de Gandi?

Vamos acabar com o Olodum?

Ah! esses podem, é? Humm. Só com blocos que devem sua origem à elite da Barra e da Vitória?

Eu, hein?

Deixem as Muquiranas em paz!!

Márcio

Manelé na Tela disse...

O presidente do Cortejo Afro disse pro Terra que o carnaval não se limita as pernas de Ivete. Logo logo, ele vai pedir recibo. Reclama que a cantora diz que acha lindo o Cortejo, mas na hora agá não pergunta como pode ajudar. Ajudar o quê, mané? Dá teu pulos, malandro, te vira! Eu prefiro as coxas da Ivete, que eu acho lindas, e não me cobram nada - nem eu delas!

Márcio

Manelé na Tela disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Manelé na Tela disse...

Marcinho,

Post e comentários simplesmente inoxidáveis, ou seja, BRILHANTES!

Concordo com absolutamente tudo!

E digo mais. Tem bloco pra todos os bolsos.. até de 10 reais tem... só não sai quem não quer..

Bjs,

Dadá Lelys
PS: Quebra aê, quebra aê, olha Dadá aê!

Manelé na Tela disse...

Acabei de chegar de Recife, então acho que posso falar sobre o
carnaval de lá.

Existem camarotes, mas, em número muito, mas, muito menor e sem
tomar espaço das ruas. Pelo menos, por onde fui, os camarotes ficam
nas sacadas das casas e bares. Não vi nenhuma estrutura montada nas
calçadas. Se houver isso, é no galo da madrugada, que dura apenas um dia, o sábado de carnaval, ao qual não compareci, por isto, não
posso afirmar.

Não existe corda. Aliás, a corda lá é considerada uma ofensa. Na
véspera do Carnaval, Ivete Sangalo puxou um trio elétrico com corda,
na praia de Boa Viagem e os Pipocas, simplesmente fizeram uma chuva de garrafas e invadiram o bloco pra bater nos "Mauricinhos".

O Carnaval de Pernambuco se divide, basicamente entre Olinda e os pólos de Recife. Tudo gratuito. Não que não exista divisão social. Existe e é bem evidente, mas, ocorre naturalmente.

Os pólos de Recife são locais onde ocorrem shows e passam "troças"
(bandinhas de frevo ou maracatu, normalmente formada nos bairros ou
escolas).

Os pólos são espalhados por toda a cidade.É como se, em Salvador,
houvesse polos em Cajazeiras, Itapuã, no Bonfim, no Campo Grande, no Comércio, na Mata Escura e na Barra, por exemplo.

As atrações são grandes nomes, como Lenine, Alceu Valença,
Dominguinhos, Elba Ramalho, muitas bandas de maracatu e mangue
beat,rap, etc. Acontece que todos tocam em todos os Pólos. Daí a
divisão natural. Os moradores de "Cajazeiras" ficam lá mesmo, mas, porque as atrações no bairro são as mesmas da "Barra" . É um pouco simplista achar que tem bloco pra todo mundo, pois tem bloco de 10 reais. Todo mundo quer seguir o Chiclete com banana e o Asa de águia e não os Anônimos do Samba ou sei lá quem.

Olinda é uma espécie de pólo também, mas, independente de Recife e funciona mais ou menos da mesma maneira. Há um terceiro evento que é o Galo da Madrugada, uma espécie de super bloco sem corda, chamado por eles de "o maior bloco do mundo". Nesse, os ricos não vão também. Nem querem, porque tem muito pobre. Vejam, eles são tão elitistas quanto os baianos, mas, a segregação, dos 2 lados, em Pernambuco, é opção e não imposição.

Bem, mas, qual o resultado? Possei o carnaval lá e não vi nenhuma,
eu disse nenhuma briga. Zero. E eu ia pra Olinda de manhã, voltava
no final da tarde e de noite ia para o Recife Antigo. Não vi um
murro sequer.

Das vezes que saí em blocos de Salvador, mesmo entre os riquinhos dos trios, era impossível, passar um dia sem ver um monte de brigas, ou separar amigos violentos como Chico, para evitar que se digladiassem com o cara que pisou no pé deles. E a muvuca em Olinda e Recife é grande, viu? Tem horas que é impossível se mexer, de tanta gente.

Antes que perguntem, em matéria de putaria, é igualzinho, principalmente em Olinda. Existem apenas duas pequenas diferenças.
Primeiro, as fantasias que eles usam, que deixam a festa muito mais irreverente. Segundo, as prefeituras, em um fantástico golpe publicitário educativo, espalharam que haviam tornado crime o beijo a força. Prefeitura nem pode criminalizar condutas. Os crimes já existiam há mais de 60 anos, só eram tolerados, no carnaval. Mas, a população internalizou isso e ninguém, mas, ninguém mesmo, tenta beijar as mulheres a força. É impressonante a diferença.

Concluindo, é obvio que o carnaval baiano é , hoje, baseado nos
blocos caríssimos. Porém, existem outras formas de fazer um carnaval
do carnaval uma festa mais popular, sem por isto, se tornar, mais violenta ou perigosa.


um abraço,

Rafson

Manelé na Tela disse...

Eu fui dos dias pra Barra. Vi muitos policiais levando gente, mas briga briga não vi nenhuma. Sei que acontecem inúmeras, mas nunca vi notícia de invasão de blocos pra bater nos mauricinhos. Isso é bobagem, coisa de menino. Aqui, já tivemos carnavais mais violentos, e temos que ser justos: a estrutura tem melhorado muito. Antes briga de garrafa tinha.

Mas vou almoçar, depois continuo...

Márcio

Manelé na Tela disse...

A invasão do bloco pra bater nos Maurcinhos foi em Recife, alguns dias antes do carnaval. Foi feio.

Aqui em Salvador, acho que nunca teve, por enquanto. Por isso disse que lá, eles consideram a corda uma agressão. Mas, aqui, parece que o povo tá mudando de idéia.

Pelo que li nos jornais, esse carnaval foi o mais violento de todos os tempos. Até a TV Bahia e o Correio descobriram que existem crimes no carnaval de Salvador!!!

Rafson

Manelé na Tela disse...

Não, Rafson, a violência no carnaval de Salvador, segundo o nosso governador, não passou de difamação da Globo! Quando não é herança maldita, é conspiração da mídia.

Mas falando sério, o carnaval da Bahia sempre foi violento (e já foi mais, pelo menos no número de mortes), assim como os carnavais de outros lugares. Recife, por exemplo, teve números bem negativos ano passado.

Agora, para ser sincero, concordo que o carnaval de Recife seja propenso a maior paz. Mas nem tanto pela presença ou não de blocos com ou sem cordas. É uma questão da cultura do carnaval, do tipo de música, dos próprios hábitos durante a festa.

Eu sinceramente acho que o trabalho da polícia durante o carnaval de Salvador é muito bem feito. Não sou exímio frequentador, mas nos que fui, vejo uma progressiva melhora. Iluminação, repressão, número de policiais, retira dos camarotes de um dos lados de Ondina... enfim, dificilmente vi alguma briga (esse ano não vi nenhuma) em que a polícia não chegue em menos de dois minutos.

E olhe que isso é louvável. Vai colocar mil franceses iluminados juntos, sem música... dá quebra-quebra!

Eu acho que contribui mesmo é a cultura do carnaval daqui. A ordem é ficar chapado e ninguém é de ninguém. A música, então, é pra levar o cara à loucura. É massa, mas tem suas conseqüências: mexer com a mulher do outro, acertar cotovelada no próximo, empurar o da frente... enfim. Tendo ou não corda, tendo o mesmo volume de foliões, essa cultura não iria mudar. Talvez melhorasse porque muitos foliões não iriam pra rua e teria menos gente na avenida, mas se o número fosse igual, a violência seria similar.

Em Recife não me parece muito esse o caso. Como você mesmo disse, lá eles não tentam pegar ninguém a força, eles não devem considerar que ninguém é de ninguém. Também não acho que frevo ou marchinha de carnaval leve ninguém a ponto de recorrer aos intintos mais primitivos (a não ser de alguns frevistas profissionais - e haja saco pra dançar frevo!): não creio que dançar com os indicadores pra cima faça mal a ninguém.

No final, prefiro minha Bahia que não joga latinha e dá murro em mauricinho, pois isso sim é que é desrespeito e agressão. E eu sei que você não concorda com isso, só acho uma história exemplar: "essa corda nos agride, pernambucanos, vamos bater nos mauricinhos de música baiana então". ehehe.

Como diria o sábio avô de alguém: errar é humano, permanecer no erro é pernambucano.

Márcio