segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Meu Bahia do pesadelo alheio

Me recuso a relembrar dessas desgraças que ajudaram a colocar o Bahia na terceira divisão, com participação brilhante dos dirigentes, é verdade, apesar de achar a idéia genial e engraçada. Por isso, não vou eleger meu Bahia dos pesadelos.

Também tem outra: é tanta desgraça que seria até injusto escolher só os 11 “peores”. Voto só no técnico, Lula Pereira, e crio uma categoria para poder esculhambar um personagem especial para mim - o jogador mais sofrível da história. O eleito é Chiquinho, um lateral-esquerdo. Miserável... e chega! Ao invés disso, prefiro escolher o Bahia do pesadelo, dos outros: os adversários.

Recentemente, pediram meu voto para uma eleição do melhor Bahia de todos os tempos que a confraria do A Tarde EC tá fazendo. Eis a minha humilde contribuição, com a ressalva de que tenho 25 anos e não vi monstros como Baiaco, Nadinho, Jésum, Roberto Rebouças, Beijoca e Douglas, entre outros, jogarem. Outros, como alguns que fizeram parte do time de 88, eu simplesmente não lembro. Vai o que considero o melhor do Bahia nesses 19 anos em que acompanho o clube, portanto.

Goleiro: Rodolfo Rodrigues. Encarnou a mística azul, vermelho e branca como ninguém. Foi o primeiro grande ídolo pós-88. Pela raça, pelas declarações polêmicas, pela carreira em Paulinho Maclaren depois daquele fantástico Bahia 5 x 4 Inter pela Copa do Brasil de 93 na Fonte, pela arrancada de sua meta até a grande área adversária que quase resulta no primeiro gol de goleiro da história do Bahia e, principalmente, pelas defesas incríveis que fez, mesmo beirando os 40 anos e, portanto, em fim de carreira, e por ter ainda ajudado a formar uma geração de bons goleiros no clube, dentre eles, Jean. Além deste, menção honrosa para Emerson. O terceiro melhor que eu vi no Tricolor.

Lateral-direito: Zanata . Peguei o finalzinho dele no Bahia, é verdade. Mas aqueles cruzamentos certeiros, com uma curva inconfundível, pros gols de cabeça de Bobô, principalmente, valem o voto. Menção honrosa pra Maílson, que, não fosse a cachaça, defenderia a Seleção. Ou quem viu duvida que ele é melhor que Cafu? Pois é, foram contemporâneos...

Lateral-esquerdo: Jefferson. Pela qualidade técnica, seria Serginho, que hoje tá no Milan. Mas ele jogou só três meses, em 1994. Jefferson prestou serviço por mais tempo - 3 anos -, conquistou mais títulos (Baiano e do Nordeste, em 2001), foi bem enquanto teve fôlego, fez belos gols e se identificou com a torcida. Menção honrosa para Calisto, de passagem fulminante, mas digna.

Zagueiros: Ronald e Samuel. Definitivamente, o Bahia não teve zagueiros brilhantes nestes últimos anos. Exceções foram Jean Witte, do início dos anos 2000, e Leonardo, de 2004, que, quando não jogou com uma frieira do tamanho do pé, matou a pau. Reginaldo Cachorrão também jogou muito em 2004, na minha opinião. Só em 2004. Mas Jean Witte não era um primor de técnica. E Leonardo acabou protagonista de um fiasco. Reginaldo foi uma caricatura dele mesmo em 2005. Por isso, fico com a minha dupla, que, isolada, nunca foi grande coisa, tanto é que não vingaram pós-tricolor, mas, junta, foi o ponto alto do time que, em 1994, apesar do ataque composto por Rivelino e Zeomar (pasmem!), chegou às quartas-de-final do Brasileirão, fez bonito e só foi desclassificado pelo Palmeiras, uma máquina com Edmundo, Roberto Carlos e cia, que acabaria campeã. Ronald e Samuel foi a última dupla de zaga do Bahia que me passou segurança.

Volantes: Lima e Paulo Rodrigues. O primeiro, pela garra, pelos canhões do Fazendão que resultaram em muitos gols, pelo murro na cara de Pachequinho por fazer corpo mole, por beijar a camisa quando fazia gols sem soar falso, enfim, por dar sangue pelo Bahia. Eu adoro os jogadores que gostam do meu time e torcem por ele além de somente trabalharem nele. Nesse quesito, Lima é quase imbatível. Percebam que eu não me refiro a ele como Lima Sergipano, como a crônica faz. Ele não precisa de diferenciação. Falou em Lima, do Bahia, que se preze, só teve um: ele. Paulo Rodrigues, por jogar com a cabeça em pé, por saber bater, por jogar bonito e de forma elegante, por saber fazer gols, de longe e de cabeça, enfim, por ser um baita craque e por ter nos liderado em nossa maior conquista.

Meias: Bobô e Robert. Bobô foi simplesmente o autor dos dois gols mais importantes da história do futebol nordestino, na final contra o Inter, jogo de ida, na Fonte. Como se não bastasse, ele foi Bobô. Jogava demais. Insuperável. O melhor que eu vi com a camisa do Bahia. Além de ser um bom amigo. Robert, por falta de opções melhores. Protagonizou lances geniais em 2004, apesar de ter se apagado na reta final. A favor dele, o fato de gostar e torcer pelo Bahia. Não resisto a isso, ainda mais quando o cara joga muito.

Atacantes: Robgol e Uéslei. Foi a escolha mais fácil. Nenhum atacante fez mais gols no Bahia nesses últimos 19 anos do que Uéslei. Só em 1999, foram 56. E de todos os tipos. De falta, bicicleta, cobertura, de placa, de pênalti, olímpico. O pitbull desgraçou o mundo naquela temporada. Por ela, meu voto. Vamos esquecer o retorno dele. Que saudade de ir pra Fonte pra ver um jogador especificamente, ter a certeza de que ele sempre ia arrebentar e comemorar seus gols ao som de “uh, uh, uh, Uéslei é pitbull!”. Robgol ganhou três títulos em dois anos, deu passes pra metade dos 100 gols de Nonato, era aguerrido, raçudo, batia pênalti como ninguém (converteu 17 dos 18 que bateu) e, além disso tudo, ainda fazia gols - 51 no total. Outro que gostava do Bahia. À exceção do Uéslei de 99, não vi atacante melhor que ele pelas bandas de Itinga. Menção honrosa pra Nonato. Era todo duro, perdia gol pra caralho, mas brocava, sempre!

Técnico: Evaristo. Ranzinza, antiquado, ultrapassado, chato, mal-humorado, teimoso, brigão e vencedor. Não podia ser outro. Campeão Brasileiro, começou a seqüência do hepta, ganhou títulos pelo Bahia em quatro décadas distintas. Os números e feitos falam por si, pode-se até não ir com a cara dele, mas o velho Vavá foi o melhor.

Camisa 12: Raudinei Pelo gol mais emocionante da minha vida (e de muitas outras, certamente) e por ser o protagonista de minha melhor lembrança futebolística.

Em suma: Rodolfo Rodrigues; Zanata, Ronald, Samuel e Jefferson; Lima, Paulo Rodrigues, Bobô e Robert; Robgol e Uéslei. Técnico: Evaristo de Macedo.

Com saudade do bom e velho Bahia,
cada vez com mais raiva dessa desgraça que se arrasta pelos campos
usando o nosso nome,

Dadá de São Caetano
PS: DEVOLVA O MEU BAHIA!!!

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