Publicado em: 11/05/2010
Jornalista é demitido da National Geographic por criticar Veja no Twitter
Por Eduardo Neco (Redação Portal IMPRENSA)
O jornalista Felipe Milanez, editor da revista National Geographic Brasil, licenciada pela editora Abril, foi demitido nesta terça-feira (11) por ter criticado via Twitter a maior publicação da casa, a revista Veja.
Milanez, na National desde outubro de 2008, publicou, em seu perfil no microblog, comentários a respeito da reportagem "A farsa da nação indígena", veiculada na última edição da revista. "Veja vomita mais ranso racista x indios, agora na Bolivia. Como pode ser tão escrota depois desse seculo de holocausto? (sic)", escreveu em post no último domingo (9).
Em mensagem no mesmo dia, Milanez complementou dizendo que ignorava a Veja, mas "racismo" da publicação fez com que se manifestasse. "Eu costumava ignorar a idiota Veja. Mas esse racismo recente tem me feito sentir mal. É como verem um filme da Guerra torcendo pros nazistas (sic)".
Em entrevista ao Portal IMPRENSA, Milanez admitiu que fez observações contundentes sobre a publicação, mas que foi surpreendido pela demissão. "Fui bem duro, fiz comentários duros, mas como pessoa; não como jornalista.
Fiquei pessoalmente ofendido [com a reportagem]. Mas estou chateado por ter saído assim. Algumas frases no Twitter acabaram com uma porrada de projetos", lamentou o ex-editor. A decisão de demitir o jornalista, segundo ele, teria vindo diretamente de setores da Editora Abril ligados à revista Veja e repassada aos responsáveis pela National Geographic. "Não sei quem decidiu e como", disse.
O redator-chefe da National, Matthew Shirts, confirmou à reportagem que Milanez foi demitido pelos comentários no Twitter. "Foi demitido por comentário do Twitter com críticas pesadas à revista. A Editora Abril paga o salário dele e tomou a decisão", disse. Ao ser questionado se concordava com a demissão do jornalista, Shirts declarou que "fez o que tinha que fazer exercendo a função".
*Colaborou Ana Ignacio/Da Redação
Independentemente da demissão, Veja não tem condições!
Boréstia
quinta-feira, maio 13, 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
9 comentários:
Discutimos isso aqui no trabalho. A pergunta pra mim é: até onde vai a defesa da liberdade de expressão? é do indivíduo, do profissional de jornalismo ou só vale para as grandes corporações?
Amoêdo
Zé,
Concordo totalmente!
Pra mim, o ponto é exatamente esse.
A defesa da liberdade de imprensa é fundamental.
Mas isso só acontece pelas grandes corporações quando afeta interesses econômicos.
Nunca vi nenhuma grande empresa de comunicação defender a liberdade de imprensa do cidadão comum.
Nunca defenderam por exemplo a possibilidade de um interessado ter direito a um canal na TV Digital, já que não há o limite dos espectros, das ondas de Rádio e TV.
Os grandes veículos de comunicação suspeitam de qualquer iniciativa que tenha como objetivo verificar o cumprimento da Constituição pela concessão de Rádio e TV.
Contudo, agora estão em campanha para que não seja possível acessar sites de notícias de capital estrangeiro. Exemplo, o site da BBC.
Ou seja, liberdade de imprensa para quem?
Além do mais, a liberdade de imprensa não é maior que as outras liberdades e direitos. Por exemplo, meu direito a intimidade.
Willow
Para mim não houve agressão à liberdade de expressão alguma. O jornalista pôde fazer seu comentário, mas tem que arcar com as consequências de sua opinião. Ele sabe que trabalha numa empresa de comunicação. E jornalismo vive de credibilidade, de sua imagem. Os comentários foram além do razoável, ele não fez apenas uma crítica, não foi uma mera opinião (por sinal, estúpida), o que ele fez foi imputar um crime à revista. E reiterou a acusação.
Para mim, não se trata meramente de censurar a opinião de um profissional que trabalha na minha empresa. Eu simplesmente não quero um alto funcionário vindo à público me acusar estupidamente da prática de um crime. Nenhuma empresa precisa ter no seu quadro funcional empregados que não suportem a empresa em que trabalham.
Márcio
Mas o que eu gostei mesmo foi da explicação que deu o cara: "fiz os comentários como pessoa, não como jornalista".
De fato, só uma anta poderia ressalvar sua estupidez sugerindo que tem mais de uma moral, uma de pessoa, outra de... sei lá... jornalista - como diria Tutty Vasques: Ô raça!
Márcio
Concordo com Marcinho, o cara passou dos limites. A Veja não merece tanto, é só uma revista ruim. Mas o que discuto é que quando rola o debate sobre liberdade de expressão os discursos são sempre muito nobres e contundentes, como se fosse um tema acima de qualquer coisa. Nesse caso que Willow citou da internet, foi patético ouvir uma jornalista dizendo que as empresas estavam defendendo a soberania do Brasil ou algo assim, quando sabemos que é apenas uma disputa econômica. Se esse cara mereceu a demissão, que é o castigo máximo dentro de uma empresa, que punição mereceriam os órgãos de imprensa que recentemente deturparam declarações de Dilma e Serra sobre exilados e fumantes/ateus, respectivamente?
Amoêdo
A deturpação dos discursos de Dilma e Serra já é uma outra história, se a questão for punir os órgãos de imprensa. Isso porque a punição virá de fora. Se o erro foi do jornalista, cabe a empresa decidir o que fazer, sem excluir obviamente a responsabilidade do veículo que propagou o erro. Para esta punição da empresa, que virá de fora, o âmbito legítimo é o Judiciário mesmo.
Márcio
Estamos de acordo. O problema é que quando o judiciário decide punir um órgão de imprensa a gritaria é generalizada, jornalistas e empresários ficam num assanhamento só, falam logo em censura, violência, atentado contra a democracia e esse blá, blá, blá todo. E nessa hora tratam a liberdade como um direito quase que inerente ao ser humano. Acho que nesse ponto cabe um paralelo com o caso do demitido aí.
Amoêdo
Não, geralmente a gritaria é quando se ameaça com censura prévia ou com a instituição de meios de controle estabelecidos e controlados pelo governo ou por comissões, no final, de caráter político. E aí eu sou veementemente contra. Nos últimos anos houve uma série de tentativas de se restringir o fluxo de informação através de controle da imprensa que justificam essa reação dos meios de comunicação.
Não vi a relação com o caso desse jornalista demitido.
Márcio
E nesse caso da internet, você acha que há uma "série de tentativas de se restringir o fluxo de informação" por parte dos próprios órgãos de imprensa"?
Amoêdo
Postar um comentário